domingo, 30 de dezembro de 2007

Quote XII

Num mundo em que deuses diferentes governam e o destino é conhecido apenas pelas três fiandeiras, os juramentos são nossa única certeza.
Uhtred Ragnarson
CORNWELL, Bernard. Os Senhores do Norte. Rio de Janeiro: Record, 2007.

Peixinho...


sábado, 29 de dezembro de 2007

Quote XI


Todos os seres vivos tremem diante da violência. Todos temem a morte, todos amam a vida. Projete você mesmo em todas as criaturas. Então, a quem você poderá ferir? Que mal você poderá fazer?

Sidarta Gautama

Desejo


Victor Hugo

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos em um deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
Eque pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga 'isso é meu',
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Quote X

Se um homem não consegue lembrar as leis, é porque tem leis demais.
Ragnar Ragnarson
CORNWELL, Bernard. Os Senhores do Norte. Rio de Janeiro: Record, 2007.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Sob o signo da Rosa

Rosa é um anagrama de Eros, o deus do amor, e essa flor tem sido consagrada às Deusas do Amor desde a Antigüidade. Para os ocultistas, o termo sub rosa significa 'algo feito em segredo'. A expressão 'sob o signo da rosa' tem um sentido bastante específico para os iniciados nas doutrinas esotéricas, para os quais o segredo é a Rosa – a rosa vermelha da outra Maria, não a mãe, mas a esposa; a Maria que representa Eros, o aspecto nupcial apaixonado do feminino que foi negado pela Igreja Católica.
Os rosa-cruzes, sociedade secreta que proliferou durante o século XVII, mas que provavelmente se originou muito tempo antes, usavam o símbolo da cruz com a rosa no centro, cujo real significado só era conhecido por um pequeno grupo. Essa não era a cruz ortodoxa de Pedro e Jesus, que foi repudiada pelos hereges como um impiedoso instrumento de tortura. A sua cruz era o X vermelho da iluminação verdadeira, símbolo de lux ou “luz”. E lux está contido em “luxúria”, um dos pecados capitais condenados pela Igreja.
Para os hereges dos primeiros tempos do catolicismo, a negação e a repressão do feminino haviam deformado a sociedade, privando-a de sua alegria e independência.
Para você, minha Rosa, meu Segredo...

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

The Old Code


A knight is sworn to valour

His heart knows only virtue

His blade defends the helpless

His might upholds the weak

His word speaks only truth

His wrath undoes the wicked.

Quote IX


Não há fatos eternos, assim como não há verdades absolutas.

Friedrich Nietzsche

Quote VIII

Se eu pudesse deixar algum presente a você, deixaria aceso o sentimento de amor à vida dos seres humanos. A consciência de aprender tudo o que nos foi ensinado pelo tempo afora. Lembraria os erros que foram cometidos, como sinais para que não mais se repetissem. A capacidade de escolher novos rumos. Deixaria para você, se pudesse, o respeito àquilo que é indispensável: alem do pão, o trabalho e a ação. E, quando tudo mais faltasse, para você eu deixaria, se pudesse, um segredo: o de buscar no interior de si mesmo a resposta para encontrar a saída.
Mahatma Ghandi

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Harry Potter e as relíquias da Morte

Acabei de ler o último livro da J. K. Rowling, Harry Potter e as relíquias da morte (Rocco, 2007). Nesse momento, o que me compele a escrever é um certo saudosismo. Afinal, chega ao fim uma série que fez parte dos recentes anos de minha vida.
Sim, fez parte, pois sou daquelas pessoas que amam os livros, que amam as estórias. Adoro ficção, e negar este fato seria negar a mim mesma. Então, é melhor assumir.
Devo começar dizendo que este livro trouxe lágrimas aos meus olhos. Há passagens profundamente dolorosas, assim como passagens altamente emocionais. Confesso que a Rowling realmente escreve muito bem. Ela tem o dom de emocionar com as palavras. O que é esperado em uma autora de livros infanto-juvenis. Mérito dela, ninguém pode negar-lhe.
Por outro lado, devo confessar que, se em um primeiro momento eu acreditava sinceramente que o Harry deveria morrer, ao fim do livro, de posse dos ‘argumentos’ colocados pela autora, reconheço que a supervivência de O-Menino-Que-Sobreviveu funciona como um traço de esperança para aqueles que lutam pela igualdade e pela justiça. Mais uma vez, mérito dela.
Quanto às famosas mortes na estória, creio que até nisso a autora foi fiel ao seu discurso. Afinal, é comum que aconteçam baixas quando se empreende uma luta contra o mal. Tais mortes podem ser materiais, assim como as descreve a escritora; ou metafóricas, conforme o descrito na carta da Morte do Tarô. Porém, fato é que perdas irão sempre acontecer. Indiscutivelmente.
Quanto ao livro em si... É uma boa leitura. Já li várias obras seqüenciadas, mas a de Rowling teve o mérito de não me deixar com aquele gostinho de ‘quero mais’; Harry Potter tem realmente, início, meio e fim. Apesar de todo sofrimento, no fim, ficamos com aquela sensação de que tudo valeu à pena.
E, de novo, mérito dela.

Quote VII

Se quiseres compreender a mensagem dos deuses, observe o que se repete em sua vida.
Ditado Celta

Quote VI



[...] talvez os que têm maior talento para o poder sejam os que nunca o buscaram.
Alvo Dumbledore
ROWLING, J. K. Harry Potter e as relíquias da morte. Rio de Janeiro: Rocco, 2007

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Quote V


Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da Criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seu semelhante.

Albert Schweitzer, Prêmio Nobel da Paz de 1952.

Gratitude

A foto acima mostra uma cadela dobermann lambendo um bombeiro exausto. Ele tinha acabado de salvá-la de um incêndio em sua casa, resgatando-a e levando-a para o gramado da frente; depois, tinha continuado a combater o incêndio. A cadela estava prenha.
O bombeiro teve medo dela no início, pois nunca antes ele tinha resgatado um dobermann.
Quando finalmente o fogo foi extinto, o bombeiro sentou na grama para recuperar o fôlego e descansar.
Um fotógrafo do jornal "The Observer", notou a dobermann olhando para o bombeiro. Ele a viu andar na direção dele e se perguntou o que a cadela ia fazer. Enquanto o fotógrafo levantava a câmera, ela se aproximou do bombeiro que tinha salvo sua vida e as dos seus filhos e 'beijou-o'.
O gesto da cadela é realmente para ser meditado. É como diziam nossos antepassados: “é melhor ter um cachorro amigo, do que um amigo cachorro”.

Por que os cães vivem tão pouco tempo...

Autor desconhecido
Sou veterinário, e fui chamado para examinar um cão da raça Wolfhound Irlandês chamado Belker. Os proprietários do animal, Ron, sua esposa Lisa, e seu garotinho Shane, eram todos muito ligados a Belker e esperavam por um milagre. Examinei Belker e descobri que ele estava morrendo de câncer.
Eu disse à família que não haveria milagres no caso de Belker, e me ofereci para proceder a eutanásia para o velho cão em sua casa. Enquanto fazíamos os arranjos, Ron e Lisa me contaram que estavam pensando se não seria bom deixar que Shane, de quatro anos de idade, observasse o procedimento.
Eles achavam que Shane poderia aprender algo da experiência. No dia seguinte, eu senti o familiar aperto na garganta enquanto a família de Belker o rodeava. Shane, o menino, parecia tão calmo, acariciando o velho cão pela última vez, que eu imaginei se ele entendia o que estava se passando. Dentro de poucos minutos, Belker foi-se, pacificamente.
O garotinho parecia aceitar a transição de Belker sem dificuldade ou confusão. Nós nos sentamos juntos um pouco após a morte de Belker, pensando alto sobre o triste fato da vida dos animais ser mais curta que a dos seres humanos.
Shane, que tinha estado escutando silenciosamente, falou: "eu sei porque". Abismados, nós nos voltamos para ele. O que saiu de sua boca me assombrou.
Eu nunca ouvira uma explicação mais reconfortante. Ele disse:
- As pessoas nascem para que possam aprender a ter uma boa vida, como amar todo mundo todo o tempo e ser bom, certo? - O garoto de quatro anos continuou - Bem, cães já nascem sabendo como fazer isto, portanto não precisam ficar por tanto tempo.

Reflexão

Esta foto foi extraída de um jornal indiano e chegou com a seguinte legenda:
"Só quem é pobre procede com tanta generosidade.
Que pena o homem não ser sempre assim".

Sombras e imagens

O olho é como uma câmera fotográfica, que mostra e vê aquilo que você quiser.
Você pode ver lixo ou poesia, miséria ou esperança, depende da sua lente.
Exposto no Museu de Arte de Israel.
Apenas um monte de lixo?
E uma sombra.

domingo, 23 de dezembro de 2007

Polonio

[...] E trata de guardar estes poucos preceitos: não dá voz ao que pensares, nem transforma em ação um pensamento tolo. Amistoso, sim, jamais vulgar. Os amigos que tenhas, já postos à prova, prende-os na tua alma com grampos de aço; mas não caleja a mão festejando qualquer galinho implume mal saído do ovo. Procura não entrar em nenhuma briga; mas, entrando, encurrala o medo no inimigo. Presta ouvido a muitos, tua voz a poucos. Acolhe a opinião de todos – mas você decide. Usa roupas tão caras quanto tua bolsa permitir, mas nada de extravagâncias – ricas, mas não pomposas. O hábito revela o homem e, em França, as pessoas de poder ou posição se mostram distintas e generosas pelas roupas que vestem. Não empreste nem peça emprestado: quem empresta perde o amigo e o dinheiro; quem pede emprestado já perdeu o controle de sua economia. E, sobretudo, isto: sê fiel a ti mesmo. Jamais serás falso pra ninguém. Adeus. Que minha bênção faça estes conselhos frutificarem em ti.
Shakespeare, William. Hamlet.

Happy Christmas



Happy Christmas, everyone, everywhere!

sábado, 22 de dezembro de 2007

Você

Eu poderia dizer que não espero nada de você, o que seria uma grande mentira. Por outro lado, poderia dizer que espero tudo de você, porém, seria uma imensa utopia.
Ninguém é tudo ou nada; a vida, os sentimentos, não são preto no branco.
A única coisa honesta a se fazer é conhecer no outro aquilo que amamos, e reconhecer que não podemos pedir mais do que alguém é capaz de oferecer. Quando tentamos mudar alguém a quem amamos, devemos nos perguntar se realmente o amamos ou se estamos nos apegando a uma ilusão.
Então, o que espero de você?
Desejo apenas que queira estar ao meu lado, assim como quero estar ao seu; seja feliz na pequenas coisas; que sejamos amigos, antes de tudo; que nos tratemos com honestidade e respeito; e, sem querer parecer piegas, que o nosso sentimento seja eterno enquanto dure.

VSF

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

O encantador de cães

Viviane Fernandes
Tô lendo um livro, o encantador de cães, de Cesar Millan. Mais uma vez, fiquei impressionada como há pessoas no mundo realmente comprometidas com a compreensão e o bem-estar dos animais.
Digo mais uma vez porque, desde Monty Roberts, não tinha tido acesso a outro livro assim.
Eu sei que o mundo bibliográfico está repleto de publicações sobre cães. Atualmente, há o aclamado Marley e eu, numa linha parecida tem o minha vida, meus cães, Orson, há ainda o comovente de Bagdá, com muito amor; só pra citar os mais recentes lançamentos. Porém, estes livros têm algo em comum, que eu chamaria ‘meu umbigo’. Eu explico: todos esses livros são escritos humanos sobre ‘como o cão me fez bem’. Isso é lugar-comum; qualquer um que tenha um cão e o ame, sabe o quanto ele faz bem. Então, eu diria que os livros acima são feitos para fazer com que o público chore, eles foram publicados para tocar a sensibilidade daqueles que os lêem e, por isso, vendem.
Creia-me, não estou criticando tais publicações, elas têm a importante função de mostrar o quanto a companhia de um cão pode ser agradável e confortadora. Como qualquer livro, aqueles têm o seu valor.
Meu comentário sobre o encantador de cães de Cesar Millan, e o parâmetro que traço com o homem que ouve cavalos, de Monty Roberts, é que ambos tratam os animais como o centro da narrativa – ambos autores realmente se preocupam com o bem-estar dos animais, com sua saúde física e mental, e ambos concluem suas idéias com uma moral: nós somos abençoados por podermos dividir nossos destinos com os animais.
Millan faz comentários pesados e diretos, sobre os quais devemos refletir, se amamos nossos animais. Ele diz que devemos tratar e amar nossos cães como cães; nos orienta sobre a responsabilidade que temos em estabelecer a liderança da matilha, se desejamos a felicidade de nossos cães; nos mostra como provocamos sérios problemas emocionais e comportamentais a eles – de boas intenções, o inferno está cheio!
Quanto a mim, admito, com uma grande vergonha, que Cesar mostrou-me algo que eu já deveria saber: os cães são animais, em primeiro lugar; cães, em segundo; e raças, em terceiro lugar. Ser um animal é o princípio básico de sua essência, senão seriam plantas – óbvio! Ser um cão é o que os diferencia dos primos lobos, dos jacarés, de nós; cães são cães, ainda bem! E raça é uma coisa produzida pelo homem, nós modificamos os cães para se parecerem aquilo que queremos que eles sejam – raça é uma coisa que nós colocamos na cabeça deles!
O pensamento é tão simples que me envergonho de ter que tê-lo lido para formar a idéia. Teve que ir um mexicano com um sonho para os Estados Unidos pra escrever um livro e me dizer isso. Que vergonha!
Além disso, o livro de Millan nos inspira a sermos melhores. O tempo todo ele fala em equilíbrio, em energia calma e acertiva, repele qualquer tipo de violência e nos convida a uma vida mais saudável, através de exercícios físicos. E o melhor é que este livro não fica nas prateleiras de auto-ajuda!
Por tudo isso, convido a todos que amam realmente os animais a ler este livro. Ele é um cálido e intenso puxão de orelha, que nos estimula a ver e amar nossos amigos peludos pelo que realmente são: cães – e não há problema nenhum nisso!

Quem é o chefe na sua casa?

Seu cão pode lhe dizer de diversas maneiras, com clareza e veemência, quem é o dominante na relação entre vocês dois. Se ele pula em você quando você volta para casa no final do dia, não está apenas feliz em vê-lo. Ele é o líder da matinha. Se você abre a porta para sair para um passeio e ele sai na sua frente, não é só porque adora passear. É porque ele é o líder da matilha. Se ele late para que você o alimente, não é por ser "engraçadinho". É porque ele é o líder da matilha. Se você está dormindo e ele o acorda às cinco da manhã para dizer: "deixe-me sair, preciso fazer xixi", então ele está lhe mostrando, antes mesmo de o sol nascer, quem manda na casa. Sempre que ele faz essas coisas, mostra que é o líder. Simples assim.
MILLAN, Cesar. O encantador de cães. Campinas: Versus, 2007.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Quote IV

Cuidado com o que pedes aos deuses pois pode ser-lhe concedido.
Ditado Celta

Quote III

Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida.
Cazuza

domingo, 9 de dezembro de 2007

Quote II


O que em geral se consegue com o castigo, em homens e animais, é o acréscimo do medo, a intensificação da prudência, o controle dos desejos; assim o castigo doma o homem, mas não o torna melhor.

Nietzsche

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

O segredo do Dragão


Quote I




Um grande poder vem com uma grande responsabilidade.
Tio Ben Parker

sábado, 1 de dezembro de 2007

Aos meus amigos

Se eu morrer antes de você, faça-me um favor:
Chore o quanto quiser, mas não brigue com Deus por Ele haver me levado.
Se não quiser chorar, não chore. Se não conseguir chorar, não se preocupe.
Se tiver vontade de rir, ria.
Se alguns amigos contarem algum fato a meu respeito, ouça e acrescente sua versão.
Se me elogiarem demais, corrija o exagero.
Se me criticarem demais, defenda-me.
Se me quiserem fazer um santo, só porque morri, mostre que eu tinha um pouco de santo, mas estava longe de ser o santo que me pintam.
Se me quiserem fazer um demônio, mostre que eu talvez tivesse um pouco de demônio, mas que a vida inteira eu tentei ser bom e amigo.
Espero estar com Ele o suficiente para continuar sendo útil a você, lá onde estiver.
E se tiver vontade de escrever alguma coisa sobre mim, diga apenas umafrase:
Foi meu amigo, acreditou em mim e me quis mais perto de Deus!
Aí, então derrame uma lágrima.
Eu não estarei presente para enxugá-la, mas não faz mal, outros amigos farão isso no meu lugar.
E, vendo-me bem substituído, irei cuidar de minha nova tarefa no céu.
Mas, de vez em quando, dê uma padronizada na direção de Deus.
Você não me verá, mas eu ficarei muito feliz vendo você olhar para Ele.
E, quando chegar a sua vez de ir para o Pai, aí, sem nenhum véu a separar agente, vamos viver, em Deus, a amizade que aqui nos preparou para Ele.
Você acredita nessas coisas?
Então ore para que nós vivamos como quem sabe que vai morrer um dia, e que morramos como quem soube viver direito.
Amizade só faz sentido se traz o céu para mais perto da gente, e se inaugura aqui mesmo o seu começo.
Mas, se eu morrer antes de você, acho que não vou estranhar o céu...
Ser seu amigo já é um pedaço dele.
Chico Xavier

Insight

Às vezes você sente necessidade de dar um tempo para aprofundar o conteúdo e os fatos que têm alimentado sua vida.
Sair do piloto automático do ir, vir, fazer, pensar, cumprir a agenda, satisfazer os desejos dos outros.
Sair e liberar corpo e alma para insights.
Insight não pode ser forçado. Não dá para marcar hora para ele acontecer.
Insight é conseqüência de um momento mágico de abertura, de silêncio para ouvir você.

Carvalhos e diamantes


Quando almejarmos uma vida sem dificuldades, lembremo-nos de que o carvalho cresce forte sob a força dos ventos e que os diamantes são feitos sob pressão.

Peter Marshall

Amigos


domingo, 25 de novembro de 2007

Anjos caninos

Existem pessoas que não gostam de cães. Estas, com certeza, nunca tiveram em sua vida um amigo de quatro patas. Ou, se tiveram, nunca olharam dentro daqueles olhos para perceber quem estava ali.

Um cão é um anjo que vem ao mundo ensinar amor. Quem mais pode dar amor incondicional, amizade sem pedir nada em troca, afeição sem esperar retorno, proteção sem ganhar nada.

Fidelidade vinte e quatro horas por dia?
Ah, não me venham com essa de que os pais fazem isso, porque os pais são humanos

E, quando os agredimos, eles ficam irritados e se afastam...
Um cão não se afasta. Mesmo quando você o agride, ele retorna cabisbaixo, pedindo desculpas por algo que talvez não fez, lambendo suas mãos a suplicar perdão.

Alguns anjos não possuem asas, possuem quatro patas, um corpo peludo, nariz de bolinha, orelhas de atenção, olhar de aflição e carência.
Apesar dessa aparência, são tão anjos quanto os outros (aqueles com asas), e se dedicam aos seus humanos tanto quanto qualquer anjo costuma dedicar-se.

Às vezes um humano veste a capa de anjo, e sai pelas ruas a catar alguns anjos abandonados à própria sorte, e lhes cura as feridas, alimenta, abriga, só para ter a sensação de haver ajudado um anjo...

Deus, quando nos fez humanos, sabia que precisaríamos de guardiões materiais que nos tirasse do corpo as aflições dos sentidos que nos permitissem sobreviver a cada dia com quase nada além do olhar e da lambida de um cão...

Que bom seria se todos os humanos pudessem ver a humanidade perfeita de um cão!


(autor desconhecido)
Já se imaginou agindo com a sabedoria canina?
A vida teria uma perspectiva mais amistosa!
É assim que um cão leva a sua vida, tente!
1. Nunca deixe passar a oportunidade de sair para um passeio.
2. Experimente a sensação do ar fresco e do vento na sua face por puro prazer.
3. Quando alguém que você ama se aproxima, corra para saudá-la(o).
4. Quando houver necessidade, pratique a obediência.
5. Deixe os outros saberem quando invadiram seu território.
6. Sempre que puder tire uma soneca e se espreguice antes de se levantar.
7. Corra, pule e brinque diariamente.
8. Coma com gosto e entusiasmo, mas pare quando estiver satisfeito.
9. Seja sempre leal.
10. Nunca pretenda ser algo que você não é.
11. Se o que você deseja está enterrado, cave até encontrar.
12. Quando alguém estiver passando por um mau dia, fique em silêncio, sente-se próximo e, gentilmente, tente agradá-lo.
13. Quando chamar a atenção deixe alguém tocá-lo.
14. Evite morder quando apenas um rosnado resolver.
15. Nos dias mornos, deite-se de costas sobre a grama.
16. Nos dias quentes, beba muita água e descanse embaixo de uma árvore frondosa.
17. Quando você estiver feliz, dance e balance todo o seu corpo.
18. Não importa quantas vezes for censurado, não assuma a culpa que tiver e não fique amuado corra imediatamente de volta para seus amigos.
19. Alegre-se com o simples prazer de uma caminhada.
20. Seja sempre você mesmo, seja com quem, como, quando ou onde for.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

As vítimas com as quais ninguém se importa

Viviane Fernandes

O cenário é um ponto de ônibus da Avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca, bairro de classe média alta da cidade do Rio de Janeiro.
Aconteceu no dia 4 de novembro de 2007, um domingo, por volta da 1 hora e 30 minutos. Madrugada.
As personagens: de um lado, três jovens de classe média, dois estudantes universitários e um menor, com 17 anos de idade; do outro lado, prostitutas e travestis.
Para o leitor incauto, a história que logo se constrói em sua mente é que os três jovens estudantes de classe média teriam sido agredidos por prostitutas e travestis num ponto de ônibus, ao retornar para casa, após uma noite de diversão.
Ledo engano, pois estamos falando do Rio de Janeiro, cidade pitoresca onde se desenrolam tramas bem mais complexas do que pode conceber a nossa vâ fantasia.
Os fatos então, segundo narrado em um periódico de grande circulação do Estado, foi o seguinte:
Após passarem parte da noite bebendo em um shopping, os três estudantes - Fernando Mattos Roiz Júnior, 19 anos, estudante de jornalismo; Luciano Filgueiras Monteiro, 21 anos, estudante de engenharia, e o menor de 17 anos -, decidem se divertir esvaziando um extintor de incêndio em cima de prostitutas e travestis que faziam ponto na Avenida Lúcio Costa. Extintor de incêndio este que teria sido furtado do condomínio de um dos perpetradores.
A ação foi testemunhada por um engenheiro que passava de carro pela avenida, acompanhado pela namorada e dois filhos. Não se omitiu: avisou à polícia. Ficou tão revoltado que seguiu o carro dos agressores até que fossem detidos na Avenida das Américas.
O caso, que remete à lembrança a agressão sofrida pela doméstica Sirlei Dias acorrido no dia 24 de junho, na mesma Avenida Lúcio Costa, suscita uma série de discussões, que devem ser levantadas.
Em primeiro lugar, deve-se levar bem mais a sério a questão da violência. Sociólogos e demagogos são unânimes em defender que a pobreza e a falta de educação são pressupostos para a escalada da violência. No caso em tela, assim como no referido caso Sirlei, os agressores não eram pobres. E são estudantes universitários. No caso Sirlei, um deles inclusive é estudante de direito.
Outra circunstância que aproxima este caso com a agressão a Sirlei é a total falência da educação familiar e dos bons costumes.
No caso Sirlei, o pai de um de seus agressores, declarou que “manter essas crianças presas é desnecessário. Elas estudam, têm famílias e não são bandidas”. Essa declaração foi feita pelo empresário Ludovico Ramalho Bruno, pai de Rubens Arruda, 19 anos, estudante de direito. O mesmo senhor Ludovico justificou os hematomas de Sirlei por ela ser “mais frágil por ser mulher, por isso fica roxa com apenas uma encostada”.
No caso deste fim-de-semana, o pai de Fernando disse que “tem gente que faz coisa pior. Foi apenas uma brincadeira de crianças. Qualquer um já passou por isso quando adolescente”.
O fato é que a Constituição é clara, em seu artigo 5°, III: “ninguém será submetido à tortura nem tratamento desumano ou degradante”. Eu não lembro de qualquer ressalva da Carta Magna que fale da possibilidade de tratar prostitutas de forma desumana ou degradante – ou mendigos, se não quisermos nos esquecer do caso Galdino Jesus dos Santos ("pensei que fosse um mendigo").
A violência nos grandes centros urbanos, principalmente a praticada por adolescentes de classe média-alta, é muito mais complexa do que querem acreditar os teóricos da segurança pública. Estes adolescentes estão acostumados a uma rotina de permissividade que lhes cria a ilusão de realeza. São desde novos ensinados que a justiça comum não se aplica a eles, já que a própria corrupção é intrínseca à sociedade, que glamoriza o consumo de bebidas alcoólicas e de drogas, que determina que aquele que tem dinheiro tem poder, pode dispor da vida dos menos privilegiados da forma que desejam.
A falência da família, em seu sentido mais amplo, tem também aqui sua parcela de responsabilidade. Uma vez que é a partir dos modelos da infância que se forma o caráter do indivíduo, o que se dizer de exemplos como o dos senhores Ludovico Bruno e Fernando Roiz?
Mais uma vez me pego na contra-mão do convencionado, defendendo os direitos daqueles com quem ninguém se importa. Enquanto a sociedade não se conscientizar de que essa política de segurança pública feita para “preto e pobre”, além de injusta e desleal, é responsável também por criar um ódio social da maior gravidade, ódio esse que não é amparado por barreiras, já que as diferenças sociais nem sempre não objetivas, muitas vezes são resultado de caráter subjetivo do indivíduo, fatos como estes vão se perpetuar nas crônicas e noticiários.
Mais uma vez lanço mão de nossa vilipendiada Carta, que deveria ser Magna, a qual, no caput de seu belo artigo 5°, diz “todos são iguais perante a lei”. O texto é lindo, infla nosso peito com a expectativa de uma “igualdade” para todos. Mas será que a sociedade irá, um dia, alcançar essa igualdade?

domingo, 4 de novembro de 2007

Todos os cães merecem o céu!

Marcelo Médici
Revista O Globo, 4 de novembro de 2007.

Quem assiste ao meu espetáculo solo “Cada um com seus pobrema” percebe que gosto de animais. Herdei de minha mãe a paixão pelos cães. E quando digo paixão é no sentido mais puro da palavra. Já fiz tudo o que um apaixonado por cães faz: peguei na rua e disse que ele tinha me seguido, socorri cachorro atropelado, arrumei um novo lar para outro sem-teto... Sou daqueles que se emocionam com a história do terrier que passou o resto de sua vida em cima do túmulo de seu dono, e que sofrem muito mais assistindo aos filmes da Lassie ou do Benji...

Gostar de um animal (ou mesmo ser apaixonado por ele!) sempre me pareceu saudável e lógico. Desde que nasci já convivi com Peninha, Toco, Lili, Greta, Xanda. Lume, Malu... Impossível enumerar aqui os momentos de alegria, companheirismo, carinho e gratidão que essa galera me proporcionou. O Peninha era de uma raça que era moda nos anos 70: pequinês. Ele avisava minha mãe quando eu chorava no berço. A Lili foi uma vira-latinha que dormia nos pés da minha cama e brincava comigo na rua. Quando eu viajava, me esperava em cima do meu travesseiro... A Lume morreu 15 dias depois de minha mãe, e a Malu, três anos após, no dia em que minha mãe faria aniversário. Mistérios... Detalhe: a Malu morreu com 19 anos! Quando a Malu se foi, decidi que não teria outro cachorro. Nunca mais!

Três meses depois chegou a Preta. Uma pestinha linda de morrer. Ela chegou numa fase complicada, estava saindo do meu emprego, mudança de vida daquelas bem grandes. Mas o que era realmente um momento ruim foi absolutamente amenizado pela presença daquela pequena criatura. Ela foi a companhia ideal para um passeio pelo quarteirão de manhã, pelo parque à tarde, para um café à noite ou uma ida à banca de jornal de madrugada (desemprego tem suas vantagens...). Para ela tudo era muito divertido! É incrível que um ser com menos de três quilos possa emanar tanta vida. Acho que ela me trouxe sorte. A fase ruim passou e eu nem percebi. A Preta deu tanta bola dentro que acabou de ganhar um companheiro, o Juca. Um gorducho que sem dúvida nenhuma é mais apaixonado pela Preta do que por mim, algo que entendo completamente. É bom deixar claro que eles não são meus filhinhos, são meus cachorros. Mas quem me conhece sabe o que isso significa.

Às vezes os apaixonados por cães não são compreendidos e chegam até a ouvir desaforos. Certa feita, minha mãe, ao alimentar um cachorro na rua, ouviu de uma vizinha que existia muita criança passando fome. O curioso é que nunca soubemos que essa mesma vizinha fizesse algo que amenizasse a fome das crianças no mundo... Qualquer prova de amor a um animal é facilmente classificada como carência, desequilíbrio, frustração e várias outras denominações que são, na minha opinião, tolas. Fico com medo de ser piegas ao falar dos meus cachorros (se minha vizinha ler esta coluna pode ficar furiosa...), mas eles mereciam essa retribuição. São criaturas incríveis, mas que requerem muita atenção. Portanto, ter um cachorro deve ser uma decisão pensada.

Se você ainda não tem um a acha que chegou a hora de ganhar um companheiro que estará ao seu lado na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, e se você se comprometer a não abandoná-lo nunca, quem sabe você não o encontra na Suipa, que mantém um trabalho lindo? E se você já tem o seu amigão e não pode ter outro (sempre cabe mais um...), a Suipa e seus abrigados aceitarão uma ajuda e lhe serão gratos, como sempre.

Meus cães foram os melhores investimentos da minha vida.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Qual é a polícia que a sociedade quer?

Viviane Fernandes
Um amigo enviou-me trechos de uma entrevista que José Padilha, diretor do filme Tropa de Elite, concedeu para a Folha de São Paulo.
Honestamente, eu acho esse Padilha um hipócrita. Visivelmente, ele foi arroxado pelos amiguinhos usuários dele e agora está fazendo uma mea culpa.

Inclusive, o cara nem sabe o que diz. Comparar o Bope com a Swat só mostra o qto ele é um ignorane no assunto, pois são equipes com funções completamente diferentes.

Honestamente, tenho ouvido muito sobre a polícia, críticas aos policiais, acusações de tortura, alegações de que os policiais devem fazer faculdade... Mas ninguém está querendo dizer a única verdade: a polícia é violenta pois os criminosos são violentos. Que tal criticar os criminosos por torturarem a todos, por serem violentos e, por que não, mandar os criminosos para a faculdade?

Há alguns anos estive em uma cidade próxima a Blumenau. É uma cidade onde as pessoas se conhecem e respeitam, local em que as pessoas nem constroem muros ou portões em suas casas. Nessa ocasião, tive a oportunidade de conhecer duas delegacias de polícia: uma na própria cidade, Indaial, e outra delegacia na cidade vizinha, e digo, em todas as duas encontrei policiais educados e um ambiente extremamente agradável. Sabe por quê? Por um único motivo: nessas cidades não há criminalidade. Foi construída uma cadeia que só abriga bêbado, local onde são colocados para dormir e "esfriar a cabeça".

A polícia só sofre críticas por causa do discurso do vencedor que, em nosso caso, são as elites. As mesmas elites que querem "esquentar" suas festinhas com maconha, cocaína e extasi (nem sei como se escreve esse troço) e que, para conseguirem "desconto", têm que fazer amizade com os traficantes da vida. Afinal, os policiais prejudicam as festinhas das elites...

Vivemos numa sociedade em que a corrupção não encontra fronteiras. O pobre é tão corrupto quanto o rico, apenas com uma área de abrangência menor, porém com a mesma intenção criminosa, intenção esta que faz até com que o vilipendiado justifique as atitudes do vilipendiador: "se fosse eu, faria a mesma coisa".

Essa realidade gera um ódio social sem proporções. Aliás, eu diria que, em nossa sociedade urbana de grande porte, o preconceito social é até mais poderoso que o preconceito étnico. Aqui, não importa ser branco ou negro, importa ser rico ou pobre. Por isso, vemos com freqüência pessoas negras de classe mais abastada cercando-se de empregados fenotipicamente caucasianos. É o preconceito social casado com o preconceito ético: "a quem posso ofender mais".

Digo, fenotipicamente caucasiano pois a sociedade brasileira foi formada a partir de, parafraseando o poeta, "estupradores e ladrões". Criminosos portugueses foram para cá enviados e, na ausência de mulheres, estupraram negras e índias, as quais, aliás, deprezavam, por serem "raças inferiores". Um pérola do pensamento cristão do século XVI. Nesse contexo, somos obrigados a reconhecer que todos nós brasileiros somos mestiços, se é que consideramos que existe mais de uma raça humana.

Nossos colonizadores não vieram para cá objetivando constriur uma nação, e até hoje o brasileiro não se identifica como tal. Somos um monte de gente com um mesmo objetivo, sim: enriquecer e pisar na cabeça do vizinho.

A instituição polícia é apenas um peão neste tabuleiro. Uma vítima das políticas públicas que desmoralizam o pobre para jogar um manto que esconda a podridão do rico.

À polícia cabe representar o braço coercitivo do Estado, e ela apenas funciona quando existe um Estado. O que no Brasil não há. O Estado brasileiro não é soberano, condição básica para sua existência.

Em um país no qual os políticos não assumem qualquer compromisso com o povo que os elegeu, em que a única fidelidade determinada pelo STF é a partidária, fica a polícia e também a população à mercê de uma ditadura da esmola, já que o Estado não cumpre a sua função de suprir a população com educação e saúde. E, claro, o traficante aprendeu muito bem essa lição: vamos dar esmolas também. E cumpre muito bem este papel, concordo.

O único braço do Estado que sobe o morro é a polícia. A mesma polícia que é armada belicamente e cuja função é fazer cumprir "a lei e a ordem". Policial não tem a função de ser bonzinho. Ao pegar em armas, o sujeito é treinado para uma única realidade: matar ou morrer. Nesse contexto, o erro não é a polícia, mas de toda uma política que age nesse sentido.

Tropa de Elite, o filme, trata sim da visão do policial. O filme tem o mérito de, pela primeira vez no Brasil, tratar o lado da maior vítima da política pública deste país, este mesmo policial que leva tiro de bandido, é maltratado pela população e escorraçado pelo poder público.

Encerro por aqui, com algumas perguntas:

Qual é a polícia que a sociedade quer?

Quem são os políticos que a sociedade quer?

Será que a sociedade está preparada para viver em um verdadeiro Estado de Direito?

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Crime sexual serial

Viviane Fernandes
O custo de manutenção de um preso em âmbito carcerário chega a ser 4,5 vezes maior que um salário mínimo.

Em um Brasil onde não há investimento em segurança pública, é quase impossível controlar as atividades do egresso, ainda que este esteja em liberdade condicional. E os criminosos sexuais fazem parte da categoria que mais reincide nos delitos cometidos.
Os benefícios de liberdade concedidos a presos têm se mostrado desastrosos, como pode ser constatado em caso recente, como o de Ademir Oliveira do Rosário que, cumprindo pena no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico II de Franco da Rocha, em São Paulo, foi incluído no programa de desinternação progressiva por ordem da juíza Regiane dos Santos, apesar das avaliações de cessação de periculosidade indicarem que o preso era portador de transtorno de personalidade e que deveria permanecer em regime fechado.
O preso é condenado por ter abusado e assassinado os irmãos Francisco Oliveira Ferreira Neto, de 14 anos, e Josenildo José Oliveira, de 13 anos, na Serra da Cantareira em setembro último, além de ser também suspeito de ter violado sexualmente outros 19 menores desde março passado.
O fato de ter sido acusado de abusos sexuais anteriores e a culminação com a morte dos dois irmãos em setembro mostra bem claramente o fenômeno da escalada da violência, documentada em sujeitos parafílicos.
Freqüentemente, o que se observa de início na infância destes indivíduos é o abuso de animais. Disto, o mais comum é a progressão para o abuso de crianças, por serem estas pequenas e indefesas. Geralmente, o ofensor inicia suas investidas com toques e carícias à vítima. Quando se sente seguro, a agressão evolui para estupro ou atentado violento ao pudor. A partir deste estágio, é comum que o sujeito não mais se satisfaça com o mero ato sexual, suas vítimas serão então torturadas e mortas.
Assim, não apenas as crianças são vítimas de criminosos sádicos sexuais, mas também mulheres são alvos freqüentes. Um nome que serve como exemplo recente de assassino sádico sexual serial brasileiro é o de Francisco de Assis Pereira, que brutalizou a assassinou várias mulheres no Parque de São Paulo.
Uma característica que se destaca comum na infância dos criminosos sádicos sexuais é o abuso, físico ou psicológico, impingido por parentes ou pessoas próximas. Assim, um ofensor sexual sádico é o infeliz resultado do somatório de uma mente psicótica e uma infância sofrida. Eles são o mais sombrio resultado dos descasos familiar e público. Na infância de todo assassino em série é relatada a violência e o abuso, emocional, físico, sexual, abandono e mesmo a negligência parental. Os relatos desses assassinos-vítimas são aterradores.
Francisco Costa Rocha, o "Chico Picadinho", foi rejeitado pelo pai. Era uma criança pequena, menor que os demais meninos e, por causa disso, sofreu constantes abusos sexuais. Matou e esquartejou duas mulheres. Atualmente continua preso na Casa de Custódia de Taubaté, pois a promotoria de lá entrou com uma ação de interdição de direitos contra ele e obteve liminar.
José Paz Bezerra, o "Monstro do Morumbi", ainda bem criança era obrigado a limpar as feridas do pai, que tinha hanseníase. Durante sua mocidade, assistiu o pai definhar dia a dia. Sua mãe, prostituta, o levava consigo para seus programas. O menino assistia a vida sexual da mãe com outros homens. Matou e violentou pelo menos 7 mulheres em São Paulo. Foi descoberto, fugiu para Belém, Pará, onde matou e violentou mais 5 mulheres. Cumpriu sua pena e atualmente está em liberdade. Não se sabe sua localização.
Os pais de Marcelo Costa de Andrade, o "Vampiro de Niterói", separaram-se quando ele tinha 5 anos de idade. Enviaram-no para ser criado pela avó no interior do Ceará. Sentiu-se abandonado pelos pais e, aos 10 anos de idade, quando estava adaptado à vida com a avó, sua mãe, de quem já nem se lembrava, foi buscá-lo. Não agüentou ficar com o menino em casa, pois seu novo companheiro não gostava da criança, então, enviou-o a casa do pai, onde a presença do menino era motivo de brigas entre pai e a madrasta. Para fugir desse contexto familiar, foi para a rua e, para sobreviver, começou a se prostituir ainda com 13 anos de idade. Matou violentamente 13 meninos. Praticava sexo com seus corpos várias vezes depois de mortos. Inclusive quando iniciava a decomposição. Foi absolvido pela justiça por ser considerado inimputável. Atualmente encontra-se detido no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Henrique Roxo, em Niterói, sem previsão de libertação, já que em todos os exames de cassação de periculosidade pelos quais passou foi atestado pelos peritos como não tendo condições mentais de ser desinternado.
Francisco de Assis Pereira, o "Maníaco do Parque", alega ter sido molestado sexualmente aos 7 anos de idade por uma tia. Aos 8 anos, a avó paterna o chamou de monstro, por ter matado uma rolinha. Torturou, violentou e matou pelo menos 10 mulheres.
Francisco das Chagas Rodrigues Brito foi uma criança abandonada pelos pais muito cedo. Foi entregue à avó para ser criado em um lugar isolado, com quase nenhum relacionamento social. Sua avó era sádica e Chagas era espancado com freqüência, além de ser torturado emocionalmente. Ela mantinha um papel na parede onde anotava as atitudes que achava merecedoras de castigo. Sempre que a soma chegava a oito, vinha a surra: ele era segurado pelas pernas, colocado de cabeça para baixo, a avó colocava o pé no pescoço dele e o surrava com cipó triplo, que ele próprio era obrigado a cortar. É acusado de ter violentado, emasculado e assassinado pelo menos 42 meninos. Foi condenado em 2006 a 20 anos e 8 meses de prisão pelo assassinato de uma de suas vítimas.
Não há informações claras de que Chagas tenha sofrido abusos sexuais, mas eles ocorreram em 82% dos casos de indivíduos que se tornaram assassinos em série.
A soma de uma infância desassistida a uma personalidade psicótica é o substrato ideal para o surgimento de um assassino em série. Produto de uma sociedade que dá pouca ou nenhuma importância aos mais fracos, essa personalidade, em busca de controle, impõe a força e a violência, repetindo a tirania que foi impetrada em sua personalidade.
Assim, ao libertar um ofensor sexual na sociedade, está-se criando a premissa necessária para que novos criminosos proliferem. Nem toda criança abusada será um criminoso na vida adulta, mas é certo que todo criminoso sádico sexual foi abusado na infância.
Dessa forma, é imperioso que o Estado assuma a sua função de garantir a ordem pública, punindo sim os eventuais criminosos mas, antes de tudo, exercendo uma política séria de proteção ao menor, uma vez que, ao omitir-se em punir os ofensores, gera o fundamento necessário para a produção contínua de homicidas parafílicos.

domingo, 14 de outubro de 2007

Aviso para quem visitar a minha casa

1. Lembre-se de que os cachorros, gatos, pássaros, peixes vivem aqui. Você não.
2. Se você não quer pêlos de cachorros e de gatos em suas roupas, fique longe dos móveis.
3. Sim, eles têm alguns hábitos desagradáveis. Eu também, assim como você. E daí?
4. CLARO que eles cheiram como animais. E você também não é um animal?
5. É da natureza deles tentar cheirar você. Por favor, sinta-se à vontade para cheirá-los também.
6. Eu gosto deles muito mais do que da maioria das pessoas.
7. Para você, eles são animais. Para mim são filhos adotivos, que são pequenos, andam de 4 e não falam tão claramente. Eu não tenho nenhum problema com nenhum desses pontos. E você?

sábado, 13 de outubro de 2007

Capitão Nascimento bate no Bonde do Foucault

Reinaldo Azevedo
Nunca antes neste país um produto cultural foi objeto de cerco tão covarde como Tropa de Elite, o filme do diretor José Padilha. Os donos dos morros dos cadernos de cultura dos jornais, investidos do papel de aiatolás das utopias permitidas, resolveram incinerá-lo antes que fosse lançado e emitiram a sua fatwa, a sua sentença: "Ele é reacionário e precisa ser destruído". Num programa de TV, um careca, com barba e óculos inteligentes, índices que denunciam um "inteliquitual", sotaque inequívoco de amigo do povo, advertia: "A mensagem é perigosa". Outro, olhar esgazeado, sintaxe trêmula, sonhava: a solução é "descriminar as drogas". E houve quem não resistisse, cravando a palavra mágica: "É de direita". Nem chegaram a dizer se o filme – que é entretenimento, não tratado de sociologia – é bom ou não.

Seqüestrado pelo Bonde do Foucault, Padilha foi libertado pelo povo. A pirataria transformou seu filme num fenômeno. A esquerda intelectual, organizada em bando para assaltar a reputação alheia (como de hábito), já não podia fazer mais nada. Pouco importava o que dissesse ou escrevesse, o filme era um sucesso. Derrotada, restou-lhe arrancar, como veremos, do indivíduo Padilha o que o cineasta Padilha não confessou. Por que tanta fúria? A resposta é simples: Tropa de Elite comete a ousadia de propor um dilema moral e de oferecer uma resposta. Em tempos de triunfo do analfabetismo também moral, é uma ofensa grave.

Qual dilema? Não há como ressuscitar o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), mas podemos consultar a sua obra e então indagar ao consumidor de droga: "Você só pratica ações que possam ser generalizadas?". Ou por outra: "Se todos, na sociedade, seguirem o seu exemplo, o Brasil será um bom lugar para viver?". O que o pensamento politicamente correto não suporta no Capitão Nascimento, o anti-herói com muito caráter, não é a sua truculência, mas a sua clareza; não é o seu defeito, mas a sua qualidade. Ele não padece de psicose dialética, uma brotoeja teórica que nasce na esquerda e que faz o bem brotar do mal, e o mal, do bem. Nascimento cultua é o bom paradoxo. Segue a máxima de Lúcio Flávio, um marginal lendário no Brasil, de tempos quase românticos: "Bandido é bandido, polícia é polícia".

A cena do filme já é famosa: numa incursão à favela, o Bope mata um traficante. No grupo de marginais, há um "estudante". Aos safanões, Nascimento lhe pergunta, depois de enfiar a sua cara no abdômen estuporado do cadáver: "Quem matou esse cara?". Com medo, o rapaz engrola uns "não sei, não sei". Alguns tapas na cara depois, acaba respondendo: "Foram vocês". E ouve do capitão a resposta que mais irritou o Bonde do Foucault: "Não! Foi você, seu maconheiro". Nascimento, quem diria?, é um discípulo de Kant. Um pouco desastrado, mas é. A narrativa é sempre pontuada por sua voz em off. Num dado momento, ele faz uma indagação: "Quantas crianças nós vamos perder para o tráfico para que o playboy possa enrolar o seu baseado?".

O Bope que aparece no filme de Padilha é incorruptível, mas violento. O principal parceiro de Nascimento chega a desistir de uma ação porque não quer compactuar com seus métodos, que, fica claro, são ilegais. Trata-se de uma mentira torpe a acusação de que o filme faz a apologia da tortura. Ocorre que o ódio que a patrulha ideológica passou a devotar à obra não deriva daí. Isso é pretexto. O que os "playboys" do relativismo rejeitam é a evocação da responsabilidade dos consumidores de droga na tragédia social brasileira. Nascimento invadiu a praia do Posto 9, em Ipanema.

Já empreguei duas vezes a expressão "Bonde do Foucault" para me referir à quadrilha ideológica que tentou pôr um saco da verdade na cabeça de Padilha: "Confesse que você é um reacionário". "Bonde", talvez vocês saibam, é como se chama, no Rio de Janeiro, a ação de bandidos quando decidem agir em conjunto para aterrorizar os cidadãos. Quem já viu Tropa de Elite sabe: faço alusão também a uma passagem em que universitários – alguns deles militantes de uma ONG e, de fato, aliados do tráfico – participam de uma aula-seminário sobre o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984). Falam sobre o livro Vigiar e Punir, em que o autor discorre sobre a evolução da legislação penal ao longo da história e caracteriza, de modo muito crítico, os métodos coercitivos e punitivos do estado.

No Brasil, os traficantes de idéias mortas são quase tão perigosos quanto os donos dos morros, como evidenciam nossos livros didáticos. Foucault sempre foi um incompreendido. Por que digo isso? Porque ele era ainda mais picareta do que seus críticos apontaram. No filme, aluna e professor fazem um pastiche de seu pensamento, e isso serve de pretexto para um severo ataque à polícia, abominada pelos bacanas como força de repressão a serviço do estado e suas injustiças. Sim, isso pode ser Foucault, mas Foucault era pior do que isso. Em Vigiar e Punir, ele fica a um passo de sugerir que o castigo físico é preferível às formas que entende veladas de repressão postas em prática pelo estado moderno. Lixo.

O personagem Matias, um policial que faz o curso de direito, é o elo entre o Capitão Nascimento, o kantiano rústico, e esse núcleo universitário. A seqüência em que essas duas éticas se confrontam desmoraliza o discurso progressista sobre as drogas e revela não a convivência entre as diferenças, mas a conivência com o crime de uma franja da sociedade que pretende, a um só tempo, ser beneficiária de todas as vantagens do estado de direito e de todas as transgressões da delinqüência. Por isso o "Bonde do Foucault" da imprensa tentou fazer um arrastão ideológico contra Tropa de Elite. Quem consome droga ilícita põe uma arma na mão de uma criança. É simples. É fato. É objetivo. Cheirar ou não cheirar é uma questão individual, moral, mas é também uma questão ética, voltada para o coletivo: em qual sociedade o consumidor de drogas escolheu viver? Posso assegurar: não há livro de Foucault que nos ajude a responder.

Derrotada, a elite da tropa esquerdopata não desistiu. José Padilha e o ator Wagner Moura foram convocados a ir além de suas sandálias. Assim como um juiz só fala nos autos, a voz que importa de um artista é a que está em seu trabalho. Ocorre que era preciso uma reparação. A opinião de ambos – ligeira e mal pensada – favorável à descriminação das drogas ameaçou, num dado momento, sobrepor-se ao próprio filme. Observem: Tropa de Elite trata é da falência de um sistema de segurança em que, segundo Nascimento, um policial "ou se corrompe, ou se omite, ou vai para a guerra".

A falha desse sistema independe do crime que ele é chamado a reprimir. Se as drogas forem liberadas e aquela falha permanecer, os maus policiais encontrarão outras formas de extorsão e associação com o crime. E esse me parece um aspecto importante do filme, que tem sido negligenciado. Um dos lemas da tropa é "No Bope tem guerreiros que acreditam no Brasil". Esse patriotismo ingênuo e retórico tem fôlego curto: um dos soldados da equipe morre, e seu caixão está coberto com a bandeira brasileira. Solene e desafiador, Nascimento chega ao velório e joga sobre o "auriverde pendão da esperança" a assustadora bandeira do Bope: um crânio fincado por uma espada, atrás do qual se cruzam duas pistolas. Outro dos refrões do grupo pergunta e responde: "Homem de preto, qual é sua missão? / Entrar na favela e deixar corpo no chão / Homem de preto, o que é que você faz? / Eu faço coisas que assustam satanás". Resta evidente que o filme não propõe este Bope como modelo de polícia.

Pouco me importa o que pensam Padilha e Moura. O que interessa é o filme. E o filme submete a um justo ridículo a sociologia vagabunda que tenta ver a polícia e o bandido como lados opostos (às vezes unidos), mas de idêntica legitimidade, de um conflito inerente ao estado burguês. O kantiano rústico "pegou geral" o Bonde do Foucault.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Meu melhor amigo é o meu amor

Viviane Fernandes
Só entendi o sentido dessa música quando ela tocou num Dog Show da Mel qualquer coisa.
Meus cães são meus melhores amigos, sempre do meu lado, sempre comigo, nos melhores e nos piores momentos. Em troca eles têm todo o meu amor, tão incondicional quanto o que eles têm por mim.
Os seres humanos magoam, machucam, são injustos... As relações humanas ferem.
Mas o amor dos cães é eterno, é para sempre, para todo o sempre enquanto durarem as suas vidas que, infelizmente, são curtas... Muito curtas...
Mas a vida curta dos cães tem uma função: nos ensinar sobre a efemeridade de nossas próprias vidas, nos ensinar sobre o renascimento das relações, o renascer do amor... Pois não existe dor de saudade tão grande que não possa ser amainada por uma nova criaturinha peluda, para quem seremos tudo, absolutamente tudo.
O amor continua, a saudade, continua, mas o amor se renova, e os cães nos ensinam que o amor é dinâmico, não estático. O amor deve se renovar e renascer, jamais ter um fim em si mesmo.
Para os cães, somos o seu tudo. Meu desafio: quem de nós consegue ter em um cão nosso tudo?
Pensar nele desde a hora que acordamos até a hora em que vamos dormir; sentir saudade dele quando estamos nos divertindo na rua...

Meus cães são meu tudo; sem eles, a vida não faz sentido.

domingo, 7 de outubro de 2007

Hora de cobrar

Gustavo Ioschpe
Costuma-se ouvir que as universidades públicas estão sendo "sucateadas". Trata-se de uma comprovação cabal da injunção de goebbels de que uma mentira repetida à exaustão torna-se verdade. Os gastos com as universidades públicas passaram de 7 bilhões de reais em 1997 para 9,9 bilhões de reais em 2006 - em valores corrigidos pela inflação. Houve, portanto, um significativo aumento. Onde está o sucateamento?
O Ministério da Educação ameaçou intervir em cursos de direito de instituições particulares de qualidade sofrível. Causa estranheza o fato de que o MEC volte suas atenções para a regulamentação de um mercado que já se auto-regulamenta e do qual os alunos têm mecanismos de avaliação transparentes e acessíveis, quando a área diretamente sob sua responsabilidade – as universidades federais – vem apresentando resultados sofríveis e as estaduais viraram, neste ano, palco de invasões de alunos. O sucesso de algumas áreas de pesquisa de poucas instituições é insuficiente para evitar a constatação de que o sistema de ensino superior público como um todo caminha para a irrelevância, no momento em que o país mais precisa dele. Há algumas semanas, a Pnad mostrou que as universidades públicas encolheram. Agora são responsáveis por apenas 24,5% das matrículas do ensino superior brasileiro. Três de cada quatro universitários brasileiros cursam instituições particulares. A importância das públicas só cresce em uma dimensão: o custo que elas representam para o bolso do cidadão.
Apenas as instituições federais consomem 9,9 bilhões de reais por ano. Com esse orçamento, matriculam somente 600.000 alunos na graduação. No país como um todo, há 1,4 milhão de jovens matriculados em universidades públicas, incluindo aí as estaduais e municipais. Adicionando os alunos das instituições particulares, temos só 5,8 milhões de universitários – o que representa menos de um quarto da população em idade universitária. A Coréia do Sul tem 89% de jovens matriculados no ensino superior, os Estados Unidos, 82% e, para ficar mais perto de casa, o Chile tem 43%, a Venezuela, 39% e o Uruguai, 38%. O conhecimento se torna uma ferramenta cada vez mais indispensável da competitividade das nações, e o Brasil não consegue colocar um quarto da sua população no ensino terciário. Por que falhamos tão grotescamente?
A primeira explicação sacada da algibeira é, como de costume, a falta de recursos. É um acinte. O aluno das nossas universidades públicas brasileiras é literalmente um dos mais caros do mundo. Segundo dados da OCDE, o universitário das nossas instituições públicas custa o equivalente à renda anual média do brasileiro. Nos países desenvolvidos, custa em média 40% da renda, na Rússia, 26% e no Chile chega a 54%. Ou seja, proporcionalmente custa 2,5 vezes mais do que o universitário dos países desenvolvidos e de duas a quatro vezes mais do que o de países em desenvolvimento.

Nossas universidades custam caro também porque são cabides de emprego. A famigerada Constituição de 1988 consagra, em seu artigo 207, a "indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão". Em termos práticos, isso significa que todo professor das nossas universidades públicas é remunerado como se fosse pesquisador de tempo integral. A pesquisa também justifica a contratação de um número desproporcional de funcionários – mesmo que a grande maioria das universidades públicas não realize pesquisa relevante.
O país precisa desobstruir esse sistema. Precisamos urgentemente de um ensino superior público bem mais barato do que o atual, para que ele possa se multiplicar e também liberar recursos para que União e estados invistam mais em educação básica, que é a que realmente necessita de dinheiro. Há uma maneira simples e óbvia de fazer isso: cobrando mensalidades dos alunos de alta renda que hoje freqüentam nossas universidades públicas sem pagar um tostão – muitos deles depois de ter cursado ensino pago durante toda a sua vida escolar.
Apesar de óbvia, a necessidade da cobrança de mensalidade dos alunos de alto nível socioeconômico esbarra na falta de coragem da classe política de abordar esse tema, por sua vez causada pela oposição da sociedade. Essa oposição é fruto de dois enganos. Os pobres acreditam que universidade gratuita é sinal de universidade disponível para quem não tem dinheiro. Como vimos nas semanas de invasões de reitorias, difundiu-se a mentalidade de que as universidades públicas são propriedade de seus alunos, e não da sociedade que as mantém. Hoje, nossas universidades são estatais em sua propriedade e privadas pela estreiteza dos interesses que defendem. Chegamos ao ponto em que cobrar mensalidade é o caminho indispensável para socializar um serviço hoje já pago por todos.