sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Live long and prosper...

Costumo dizer que eu cresci na ponte da Entreprise. Isso é, obviamente, uma metáfora, fundada em uma certa verdade. Acontece que eu não fui o tipo de criança que brincava na rua, minha infância foi mais introspectiva, e bastante televisiva.
Minha referência direta a Jornada nas Estrelas decorre do fato de que esta foi a série que acompanhou o maior período de minha infância, bem como toda a minha vida adulta. Essa infiltração cultural deixou fortes marcas em minha personalidade.
O conceito de Star Trek foi criado por Gene Roddenberry na década de 60. Naquela época, a censura agia com punhos de ferro, e Gene criou uma série que criticava esse momento político. Ao tratar a realidade por meio de criaturas extraterrestres, Gene foi capaz de driblar os órgãos censores e passar sua mensagem.
Em sua ponte de comando, a Enterprise da série clássica já transmitia uma mensagem de igualdade e tolerância. Não era por acaso que lá havia uma mulher negra, um oriental, um russo, um escocês e um extraterrestre, todos trabalhando em paz e harmonia.
Uma curiosidade: a atriz Nichelle Nichols conta que, em uma convenção, uma menina se aproximou dela e disse amar Star Trek porque, pela primeira vez, vira uma mulher negra interpretando um papel que não fosse o de empregada. Essa menina era Whoopi Goldberg, que anos depois interpretaria a complexa personagem Guinan, em Star Trek Next Generation.
Tolerância. Esta foi, sem dúvida, a primeira e mais valiosa lição que aprendi com a tripulação do Capitão Kirk. Sou apenas humana e, como tal, tenho inúmeros defeitos; como tal, sou uma criatura preconceituosa. Porém, por causa das lições de ST, um de meus objetivos de vida é abandonar este sentimento mesquinho e degradante.
Roddenberry fez também com que a diretriz primeira da Federação dos Planetas Unidos fosse a de não interferência. Por várias vezes, a série mostra como é difícil respeitar esta diretriz, seja por motivos éticos, morais ou humanitários. Por sermos tão apegados a nossos próprios padrões culturais, é extremamente difícil aceitar a cultura de outros povos.
Alteridade. Conceito que significa o respeito a diferentes formas culturais. Com ST aprendi que os povos são diferentes, agem e pensam de forma diferente, porém, isso não faz com que uma cultura seja melhor que a outra. Somos todos, apenas, diferentes. Isso é verdade, tanto na Terra, como em qualquer outro planeta do Universo.
TaH pagh TaHbe.
Outra importante lição eu tirei da antítese Spock x Data, embora sejam personagens de fases diferentes da série. Spock, o meio humano que tentava tão arduamente abandonar os sentimentos e se tornar absolutamente cerebral; e Data, o andróide destituído de sentimentos, buscando desesperadamente por sua humanidade. Nenhu dos dois é perfeito, e nenhum dos dois é satisfeito com sua condição.
A lição clara é que lógica e sentimentos devem existir em harmonia, um não pode sobrepujar o outro, assim como um não é melhor que o outro. Para sermos completos, temos que encontrar o perfeito ponto de equilíbrio entre eles.
Esses conceitos, que assim, escritos, parecem tão simples, guiam minha vida. Minha personalidade é hoje um somatório dos ensinamentos ministrados por Kirk, Spock e McCoy, Pickard, Janeway, Sisko, Worf, Data, Troy...
E, em verdade, embora a estória se passe no futuro, Star Trek não é nada mais que uma nova forma de narrar um conto de capa-e-espada, na tradução de todos os seus valores de dignidade, lealdade, honradez. Valores que a humanidade, infelizmente, vem deixando de lado ao longo dos tempos.

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