quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Crime sexual serial

Viviane Fernandes
O custo de manutenção de um preso em âmbito carcerário chega a ser 4,5 vezes maior que um salário mínimo.

Em um Brasil onde não há investimento em segurança pública, é quase impossível controlar as atividades do egresso, ainda que este esteja em liberdade condicional. E os criminosos sexuais fazem parte da categoria que mais reincide nos delitos cometidos.
Os benefícios de liberdade concedidos a presos têm se mostrado desastrosos, como pode ser constatado em caso recente, como o de Ademir Oliveira do Rosário que, cumprindo pena no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico II de Franco da Rocha, em São Paulo, foi incluído no programa de desinternação progressiva por ordem da juíza Regiane dos Santos, apesar das avaliações de cessação de periculosidade indicarem que o preso era portador de transtorno de personalidade e que deveria permanecer em regime fechado.
O preso é condenado por ter abusado e assassinado os irmãos Francisco Oliveira Ferreira Neto, de 14 anos, e Josenildo José Oliveira, de 13 anos, na Serra da Cantareira em setembro último, além de ser também suspeito de ter violado sexualmente outros 19 menores desde março passado.
O fato de ter sido acusado de abusos sexuais anteriores e a culminação com a morte dos dois irmãos em setembro mostra bem claramente o fenômeno da escalada da violência, documentada em sujeitos parafílicos.
Freqüentemente, o que se observa de início na infância destes indivíduos é o abuso de animais. Disto, o mais comum é a progressão para o abuso de crianças, por serem estas pequenas e indefesas. Geralmente, o ofensor inicia suas investidas com toques e carícias à vítima. Quando se sente seguro, a agressão evolui para estupro ou atentado violento ao pudor. A partir deste estágio, é comum que o sujeito não mais se satisfaça com o mero ato sexual, suas vítimas serão então torturadas e mortas.
Assim, não apenas as crianças são vítimas de criminosos sádicos sexuais, mas também mulheres são alvos freqüentes. Um nome que serve como exemplo recente de assassino sádico sexual serial brasileiro é o de Francisco de Assis Pereira, que brutalizou a assassinou várias mulheres no Parque de São Paulo.
Uma característica que se destaca comum na infância dos criminosos sádicos sexuais é o abuso, físico ou psicológico, impingido por parentes ou pessoas próximas. Assim, um ofensor sexual sádico é o infeliz resultado do somatório de uma mente psicótica e uma infância sofrida. Eles são o mais sombrio resultado dos descasos familiar e público. Na infância de todo assassino em série é relatada a violência e o abuso, emocional, físico, sexual, abandono e mesmo a negligência parental. Os relatos desses assassinos-vítimas são aterradores.
Francisco Costa Rocha, o "Chico Picadinho", foi rejeitado pelo pai. Era uma criança pequena, menor que os demais meninos e, por causa disso, sofreu constantes abusos sexuais. Matou e esquartejou duas mulheres. Atualmente continua preso na Casa de Custódia de Taubaté, pois a promotoria de lá entrou com uma ação de interdição de direitos contra ele e obteve liminar.
José Paz Bezerra, o "Monstro do Morumbi", ainda bem criança era obrigado a limpar as feridas do pai, que tinha hanseníase. Durante sua mocidade, assistiu o pai definhar dia a dia. Sua mãe, prostituta, o levava consigo para seus programas. O menino assistia a vida sexual da mãe com outros homens. Matou e violentou pelo menos 7 mulheres em São Paulo. Foi descoberto, fugiu para Belém, Pará, onde matou e violentou mais 5 mulheres. Cumpriu sua pena e atualmente está em liberdade. Não se sabe sua localização.
Os pais de Marcelo Costa de Andrade, o "Vampiro de Niterói", separaram-se quando ele tinha 5 anos de idade. Enviaram-no para ser criado pela avó no interior do Ceará. Sentiu-se abandonado pelos pais e, aos 10 anos de idade, quando estava adaptado à vida com a avó, sua mãe, de quem já nem se lembrava, foi buscá-lo. Não agüentou ficar com o menino em casa, pois seu novo companheiro não gostava da criança, então, enviou-o a casa do pai, onde a presença do menino era motivo de brigas entre pai e a madrasta. Para fugir desse contexto familiar, foi para a rua e, para sobreviver, começou a se prostituir ainda com 13 anos de idade. Matou violentamente 13 meninos. Praticava sexo com seus corpos várias vezes depois de mortos. Inclusive quando iniciava a decomposição. Foi absolvido pela justiça por ser considerado inimputável. Atualmente encontra-se detido no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Henrique Roxo, em Niterói, sem previsão de libertação, já que em todos os exames de cassação de periculosidade pelos quais passou foi atestado pelos peritos como não tendo condições mentais de ser desinternado.
Francisco de Assis Pereira, o "Maníaco do Parque", alega ter sido molestado sexualmente aos 7 anos de idade por uma tia. Aos 8 anos, a avó paterna o chamou de monstro, por ter matado uma rolinha. Torturou, violentou e matou pelo menos 10 mulheres.
Francisco das Chagas Rodrigues Brito foi uma criança abandonada pelos pais muito cedo. Foi entregue à avó para ser criado em um lugar isolado, com quase nenhum relacionamento social. Sua avó era sádica e Chagas era espancado com freqüência, além de ser torturado emocionalmente. Ela mantinha um papel na parede onde anotava as atitudes que achava merecedoras de castigo. Sempre que a soma chegava a oito, vinha a surra: ele era segurado pelas pernas, colocado de cabeça para baixo, a avó colocava o pé no pescoço dele e o surrava com cipó triplo, que ele próprio era obrigado a cortar. É acusado de ter violentado, emasculado e assassinado pelo menos 42 meninos. Foi condenado em 2006 a 20 anos e 8 meses de prisão pelo assassinato de uma de suas vítimas.
Não há informações claras de que Chagas tenha sofrido abusos sexuais, mas eles ocorreram em 82% dos casos de indivíduos que se tornaram assassinos em série.
A soma de uma infância desassistida a uma personalidade psicótica é o substrato ideal para o surgimento de um assassino em série. Produto de uma sociedade que dá pouca ou nenhuma importância aos mais fracos, essa personalidade, em busca de controle, impõe a força e a violência, repetindo a tirania que foi impetrada em sua personalidade.
Assim, ao libertar um ofensor sexual na sociedade, está-se criando a premissa necessária para que novos criminosos proliferem. Nem toda criança abusada será um criminoso na vida adulta, mas é certo que todo criminoso sádico sexual foi abusado na infância.
Dessa forma, é imperioso que o Estado assuma a sua função de garantir a ordem pública, punindo sim os eventuais criminosos mas, antes de tudo, exercendo uma política séria de proteção ao menor, uma vez que, ao omitir-se em punir os ofensores, gera o fundamento necessário para a produção contínua de homicidas parafílicos.

domingo, 14 de outubro de 2007

Aviso para quem visitar a minha casa

1. Lembre-se de que os cachorros, gatos, pássaros, peixes vivem aqui. Você não.
2. Se você não quer pêlos de cachorros e de gatos em suas roupas, fique longe dos móveis.
3. Sim, eles têm alguns hábitos desagradáveis. Eu também, assim como você. E daí?
4. CLARO que eles cheiram como animais. E você também não é um animal?
5. É da natureza deles tentar cheirar você. Por favor, sinta-se à vontade para cheirá-los também.
6. Eu gosto deles muito mais do que da maioria das pessoas.
7. Para você, eles são animais. Para mim são filhos adotivos, que são pequenos, andam de 4 e não falam tão claramente. Eu não tenho nenhum problema com nenhum desses pontos. E você?

sábado, 13 de outubro de 2007

Capitão Nascimento bate no Bonde do Foucault

Reinaldo Azevedo
Nunca antes neste país um produto cultural foi objeto de cerco tão covarde como Tropa de Elite, o filme do diretor José Padilha. Os donos dos morros dos cadernos de cultura dos jornais, investidos do papel de aiatolás das utopias permitidas, resolveram incinerá-lo antes que fosse lançado e emitiram a sua fatwa, a sua sentença: "Ele é reacionário e precisa ser destruído". Num programa de TV, um careca, com barba e óculos inteligentes, índices que denunciam um "inteliquitual", sotaque inequívoco de amigo do povo, advertia: "A mensagem é perigosa". Outro, olhar esgazeado, sintaxe trêmula, sonhava: a solução é "descriminar as drogas". E houve quem não resistisse, cravando a palavra mágica: "É de direita". Nem chegaram a dizer se o filme – que é entretenimento, não tratado de sociologia – é bom ou não.

Seqüestrado pelo Bonde do Foucault, Padilha foi libertado pelo povo. A pirataria transformou seu filme num fenômeno. A esquerda intelectual, organizada em bando para assaltar a reputação alheia (como de hábito), já não podia fazer mais nada. Pouco importava o que dissesse ou escrevesse, o filme era um sucesso. Derrotada, restou-lhe arrancar, como veremos, do indivíduo Padilha o que o cineasta Padilha não confessou. Por que tanta fúria? A resposta é simples: Tropa de Elite comete a ousadia de propor um dilema moral e de oferecer uma resposta. Em tempos de triunfo do analfabetismo também moral, é uma ofensa grave.

Qual dilema? Não há como ressuscitar o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), mas podemos consultar a sua obra e então indagar ao consumidor de droga: "Você só pratica ações que possam ser generalizadas?". Ou por outra: "Se todos, na sociedade, seguirem o seu exemplo, o Brasil será um bom lugar para viver?". O que o pensamento politicamente correto não suporta no Capitão Nascimento, o anti-herói com muito caráter, não é a sua truculência, mas a sua clareza; não é o seu defeito, mas a sua qualidade. Ele não padece de psicose dialética, uma brotoeja teórica que nasce na esquerda e que faz o bem brotar do mal, e o mal, do bem. Nascimento cultua é o bom paradoxo. Segue a máxima de Lúcio Flávio, um marginal lendário no Brasil, de tempos quase românticos: "Bandido é bandido, polícia é polícia".

A cena do filme já é famosa: numa incursão à favela, o Bope mata um traficante. No grupo de marginais, há um "estudante". Aos safanões, Nascimento lhe pergunta, depois de enfiar a sua cara no abdômen estuporado do cadáver: "Quem matou esse cara?". Com medo, o rapaz engrola uns "não sei, não sei". Alguns tapas na cara depois, acaba respondendo: "Foram vocês". E ouve do capitão a resposta que mais irritou o Bonde do Foucault: "Não! Foi você, seu maconheiro". Nascimento, quem diria?, é um discípulo de Kant. Um pouco desastrado, mas é. A narrativa é sempre pontuada por sua voz em off. Num dado momento, ele faz uma indagação: "Quantas crianças nós vamos perder para o tráfico para que o playboy possa enrolar o seu baseado?".

O Bope que aparece no filme de Padilha é incorruptível, mas violento. O principal parceiro de Nascimento chega a desistir de uma ação porque não quer compactuar com seus métodos, que, fica claro, são ilegais. Trata-se de uma mentira torpe a acusação de que o filme faz a apologia da tortura. Ocorre que o ódio que a patrulha ideológica passou a devotar à obra não deriva daí. Isso é pretexto. O que os "playboys" do relativismo rejeitam é a evocação da responsabilidade dos consumidores de droga na tragédia social brasileira. Nascimento invadiu a praia do Posto 9, em Ipanema.

Já empreguei duas vezes a expressão "Bonde do Foucault" para me referir à quadrilha ideológica que tentou pôr um saco da verdade na cabeça de Padilha: "Confesse que você é um reacionário". "Bonde", talvez vocês saibam, é como se chama, no Rio de Janeiro, a ação de bandidos quando decidem agir em conjunto para aterrorizar os cidadãos. Quem já viu Tropa de Elite sabe: faço alusão também a uma passagem em que universitários – alguns deles militantes de uma ONG e, de fato, aliados do tráfico – participam de uma aula-seminário sobre o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984). Falam sobre o livro Vigiar e Punir, em que o autor discorre sobre a evolução da legislação penal ao longo da história e caracteriza, de modo muito crítico, os métodos coercitivos e punitivos do estado.

No Brasil, os traficantes de idéias mortas são quase tão perigosos quanto os donos dos morros, como evidenciam nossos livros didáticos. Foucault sempre foi um incompreendido. Por que digo isso? Porque ele era ainda mais picareta do que seus críticos apontaram. No filme, aluna e professor fazem um pastiche de seu pensamento, e isso serve de pretexto para um severo ataque à polícia, abominada pelos bacanas como força de repressão a serviço do estado e suas injustiças. Sim, isso pode ser Foucault, mas Foucault era pior do que isso. Em Vigiar e Punir, ele fica a um passo de sugerir que o castigo físico é preferível às formas que entende veladas de repressão postas em prática pelo estado moderno. Lixo.

O personagem Matias, um policial que faz o curso de direito, é o elo entre o Capitão Nascimento, o kantiano rústico, e esse núcleo universitário. A seqüência em que essas duas éticas se confrontam desmoraliza o discurso progressista sobre as drogas e revela não a convivência entre as diferenças, mas a conivência com o crime de uma franja da sociedade que pretende, a um só tempo, ser beneficiária de todas as vantagens do estado de direito e de todas as transgressões da delinqüência. Por isso o "Bonde do Foucault" da imprensa tentou fazer um arrastão ideológico contra Tropa de Elite. Quem consome droga ilícita põe uma arma na mão de uma criança. É simples. É fato. É objetivo. Cheirar ou não cheirar é uma questão individual, moral, mas é também uma questão ética, voltada para o coletivo: em qual sociedade o consumidor de drogas escolheu viver? Posso assegurar: não há livro de Foucault que nos ajude a responder.

Derrotada, a elite da tropa esquerdopata não desistiu. José Padilha e o ator Wagner Moura foram convocados a ir além de suas sandálias. Assim como um juiz só fala nos autos, a voz que importa de um artista é a que está em seu trabalho. Ocorre que era preciso uma reparação. A opinião de ambos – ligeira e mal pensada – favorável à descriminação das drogas ameaçou, num dado momento, sobrepor-se ao próprio filme. Observem: Tropa de Elite trata é da falência de um sistema de segurança em que, segundo Nascimento, um policial "ou se corrompe, ou se omite, ou vai para a guerra".

A falha desse sistema independe do crime que ele é chamado a reprimir. Se as drogas forem liberadas e aquela falha permanecer, os maus policiais encontrarão outras formas de extorsão e associação com o crime. E esse me parece um aspecto importante do filme, que tem sido negligenciado. Um dos lemas da tropa é "No Bope tem guerreiros que acreditam no Brasil". Esse patriotismo ingênuo e retórico tem fôlego curto: um dos soldados da equipe morre, e seu caixão está coberto com a bandeira brasileira. Solene e desafiador, Nascimento chega ao velório e joga sobre o "auriverde pendão da esperança" a assustadora bandeira do Bope: um crânio fincado por uma espada, atrás do qual se cruzam duas pistolas. Outro dos refrões do grupo pergunta e responde: "Homem de preto, qual é sua missão? / Entrar na favela e deixar corpo no chão / Homem de preto, o que é que você faz? / Eu faço coisas que assustam satanás". Resta evidente que o filme não propõe este Bope como modelo de polícia.

Pouco me importa o que pensam Padilha e Moura. O que interessa é o filme. E o filme submete a um justo ridículo a sociologia vagabunda que tenta ver a polícia e o bandido como lados opostos (às vezes unidos), mas de idêntica legitimidade, de um conflito inerente ao estado burguês. O kantiano rústico "pegou geral" o Bonde do Foucault.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Meu melhor amigo é o meu amor

Viviane Fernandes
Só entendi o sentido dessa música quando ela tocou num Dog Show da Mel qualquer coisa.
Meus cães são meus melhores amigos, sempre do meu lado, sempre comigo, nos melhores e nos piores momentos. Em troca eles têm todo o meu amor, tão incondicional quanto o que eles têm por mim.
Os seres humanos magoam, machucam, são injustos... As relações humanas ferem.
Mas o amor dos cães é eterno, é para sempre, para todo o sempre enquanto durarem as suas vidas que, infelizmente, são curtas... Muito curtas...
Mas a vida curta dos cães tem uma função: nos ensinar sobre a efemeridade de nossas próprias vidas, nos ensinar sobre o renascimento das relações, o renascer do amor... Pois não existe dor de saudade tão grande que não possa ser amainada por uma nova criaturinha peluda, para quem seremos tudo, absolutamente tudo.
O amor continua, a saudade, continua, mas o amor se renova, e os cães nos ensinam que o amor é dinâmico, não estático. O amor deve se renovar e renascer, jamais ter um fim em si mesmo.
Para os cães, somos o seu tudo. Meu desafio: quem de nós consegue ter em um cão nosso tudo?
Pensar nele desde a hora que acordamos até a hora em que vamos dormir; sentir saudade dele quando estamos nos divertindo na rua...

Meus cães são meu tudo; sem eles, a vida não faz sentido.

domingo, 7 de outubro de 2007

Hora de cobrar

Gustavo Ioschpe
Costuma-se ouvir que as universidades públicas estão sendo "sucateadas". Trata-se de uma comprovação cabal da injunção de goebbels de que uma mentira repetida à exaustão torna-se verdade. Os gastos com as universidades públicas passaram de 7 bilhões de reais em 1997 para 9,9 bilhões de reais em 2006 - em valores corrigidos pela inflação. Houve, portanto, um significativo aumento. Onde está o sucateamento?
O Ministério da Educação ameaçou intervir em cursos de direito de instituições particulares de qualidade sofrível. Causa estranheza o fato de que o MEC volte suas atenções para a regulamentação de um mercado que já se auto-regulamenta e do qual os alunos têm mecanismos de avaliação transparentes e acessíveis, quando a área diretamente sob sua responsabilidade – as universidades federais – vem apresentando resultados sofríveis e as estaduais viraram, neste ano, palco de invasões de alunos. O sucesso de algumas áreas de pesquisa de poucas instituições é insuficiente para evitar a constatação de que o sistema de ensino superior público como um todo caminha para a irrelevância, no momento em que o país mais precisa dele. Há algumas semanas, a Pnad mostrou que as universidades públicas encolheram. Agora são responsáveis por apenas 24,5% das matrículas do ensino superior brasileiro. Três de cada quatro universitários brasileiros cursam instituições particulares. A importância das públicas só cresce em uma dimensão: o custo que elas representam para o bolso do cidadão.
Apenas as instituições federais consomem 9,9 bilhões de reais por ano. Com esse orçamento, matriculam somente 600.000 alunos na graduação. No país como um todo, há 1,4 milhão de jovens matriculados em universidades públicas, incluindo aí as estaduais e municipais. Adicionando os alunos das instituições particulares, temos só 5,8 milhões de universitários – o que representa menos de um quarto da população em idade universitária. A Coréia do Sul tem 89% de jovens matriculados no ensino superior, os Estados Unidos, 82% e, para ficar mais perto de casa, o Chile tem 43%, a Venezuela, 39% e o Uruguai, 38%. O conhecimento se torna uma ferramenta cada vez mais indispensável da competitividade das nações, e o Brasil não consegue colocar um quarto da sua população no ensino terciário. Por que falhamos tão grotescamente?
A primeira explicação sacada da algibeira é, como de costume, a falta de recursos. É um acinte. O aluno das nossas universidades públicas brasileiras é literalmente um dos mais caros do mundo. Segundo dados da OCDE, o universitário das nossas instituições públicas custa o equivalente à renda anual média do brasileiro. Nos países desenvolvidos, custa em média 40% da renda, na Rússia, 26% e no Chile chega a 54%. Ou seja, proporcionalmente custa 2,5 vezes mais do que o universitário dos países desenvolvidos e de duas a quatro vezes mais do que o de países em desenvolvimento.

Nossas universidades custam caro também porque são cabides de emprego. A famigerada Constituição de 1988 consagra, em seu artigo 207, a "indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão". Em termos práticos, isso significa que todo professor das nossas universidades públicas é remunerado como se fosse pesquisador de tempo integral. A pesquisa também justifica a contratação de um número desproporcional de funcionários – mesmo que a grande maioria das universidades públicas não realize pesquisa relevante.
O país precisa desobstruir esse sistema. Precisamos urgentemente de um ensino superior público bem mais barato do que o atual, para que ele possa se multiplicar e também liberar recursos para que União e estados invistam mais em educação básica, que é a que realmente necessita de dinheiro. Há uma maneira simples e óbvia de fazer isso: cobrando mensalidades dos alunos de alta renda que hoje freqüentam nossas universidades públicas sem pagar um tostão – muitos deles depois de ter cursado ensino pago durante toda a sua vida escolar.
Apesar de óbvia, a necessidade da cobrança de mensalidade dos alunos de alto nível socioeconômico esbarra na falta de coragem da classe política de abordar esse tema, por sua vez causada pela oposição da sociedade. Essa oposição é fruto de dois enganos. Os pobres acreditam que universidade gratuita é sinal de universidade disponível para quem não tem dinheiro. Como vimos nas semanas de invasões de reitorias, difundiu-se a mentalidade de que as universidades públicas são propriedade de seus alunos, e não da sociedade que as mantém. Hoje, nossas universidades são estatais em sua propriedade e privadas pela estreiteza dos interesses que defendem. Chegamos ao ponto em que cobrar mensalidade é o caminho indispensável para socializar um serviço hoje já pago por todos.

O aborto e a igualdade

André Petry
"Elisabete dos Santos, que matou a filha, vai para a cadeia. É justo. Elisabete cometeu um crime repulsivo. Mas é hipocrisia que só as mulheres abastadas tenham acesso ao aborto".
A pequena Michele, nome dado pelos funcionários da UTI neonatal, morreu na noite de quinta-feira. No domingo anterior, Michele foi encontrada boiando num poluído ribeirão da região metropolitana de Belo Horizonte. Sua mãe, Elisabete Cordeiro dos Santos, de 25 anos, não queria a filha. Aos quatro meses de gravidez, tentou abortar, mas não deu certo. Aos oito, tomou remédios abortivos, a criança nasceu com 37 semanas e a mãe jogou-a no ribeirão poluído nos fundos de casa. Na UTI, o bebê acabou morrendo com infecção generalizada e edema cerebral. A mãe está presa.
Infelizmente, Elisabete não é a primeira a jogar o filho fora. Infelizmente, não será a última. O caso recente mais conhecido, também ocorrido em Belo Horizonte, é o da vendedora Simone Cassiano da Silva, então com 29 anos. Em janeiro do ano passado, ela jogou a filha de 2 meses na Lagoa da Pampulha. A criança foi encontrada num saco plástico, boiando. Sobreviveu. Simone foi condenada a oito anos e quatro meses de prisão por tentativa de homicídio. Cumpre a pena na penitenciária Estevão Pinto, em Belo Horizonte (o leitor reparou como tem gente que vai presa no Brasil?).
Com regularidade mensal, surgem casos parecidos. Agora mesmo, no dia 19 de setembro, a faxineira Maria Zilda da Silva, de 39 anos, abandonou seu bebê recém-nascido numa mata em Camaragibe, região metropolitana do Recife. O bebê foi encontrado com o corpo coberto de picadas de formigas e com dificuldade de respirar. Também sobreviveu.
O que há em comum entre essas mães?
São todas mulheres humildes, pobres, moradoras do pedaço senzala do Brasil. Nenhuma é de classe média, classe alta. Por quê? Será que as brasileiras mais abastadas têm um instinto materno naturalmente mais aguçado? Ou são educadas com mais zelo para os rigores da maternidade? Será que só ficam grávidas quando querem? Será que entre elas os métodos de contracepção são 100% eficazes, índice de sucesso inédito inclusive na Suécia e na Noruega?
A resposta é o aborto. As brasileiras mais abastadas, se não querem uma gravidez que não puderam evitar, dispõem dos meios para abortar. Há clínicas clandestinas que fazem o serviço pelo Brasil inteiro. Mas cobram caro. Jamais uma brasileira abastada, sem outra opção que não o aborto, se verá levada à demência de jogar um bebê pela janela. Justamente porque o aborto se lhe apresenta como solução anterior a esse estágio de completo desespero e delírio.
Quem fica sujeito a não ter opção alguma, nem mesmo à do aborto, são essas mulheres pobres, que vivem na periferia da cidade e da vida, que não têm dentes nem futuro, que amam às pressas, que são elas próprias filhas de algum abandono – do parceiro, da família, do estado. É por isso que legalizar o aborto, além de tudo, também é uma forma de tratar as brasileiras com alguma igualdade.

Elisabete, que matou a filha, vai para a cadeia. Deve pegar mais que os oito anos de Simone, que jogou a filha na Lagoa da Pampulha. É justo. Elisabete cometeu um crime repulsivo. É assassinato. Vivendo a mesma asfixia infernal de Elisabete, tantas outras mulheres jogam seus filhos fora. É justo que, mesmo sendo pobres, tivessem outra opção.
Como sempre, dois Brasis.

Nova pet shop no Meyer

Pessoal, esta é uma ótima notícia para quem mora no Meyer e arredores: a pet Animal Feliz abriu uma filial na Rua Constança Barbosa n° 140, loja B. O telefone é 3899-9549.

Pra quem não conhece, a Animal Feliz é uma pet cujo primeiro endereço é na Rua José Bonifácio n° 585, Todos os Santos. Os telefones são: 2592-1313 e 3273-3820.

A Animal Feliz é reconhecida, inclusive pelos lojistas das demais pets da região, seus concorrentes, como a melhor do bairro.

Minha experiência pessoal com eles é fantástica!

Certa vez, minha veterinária receitou para um de meus cães um medicamento que não é comum no mercado. Liguei para várias pets, inclusive na Zona Sul, e ninguém tinha o medicamento. Liguei também para uma pet e clínica veterinária próxima daqui e a pessoa que lá me atendeu perguntou se eu já tinha falado com a Animal Feliz, e o rapaz ainda arrematou: "se a Animal Feliz não tiver, ninguém mais no Rio de Janeiro tem".

Daí, liguei pra Animal Feliz, falei com o Mário, ele não tinha o remédio, mas contatou o representante do laboratório e no dia seguinte já estava me entregando a encomenda.
Isso aconteceu várias vezes depois, com outros vários remédios receitados pela minha veterinária aos meus cães.


Por isso, faço mesmo propaganda deles, pois são atenciosos, prestativos, excelentes profissionais.