domingo, 26 de dezembro de 2010

Sobre o homem e o destino do Planeta

Eles levaram Malcolm para outro quarto do alojamento e o colocaram em uma cama limpa. Hammond pareceu ressuscitar, e andava de um lado para outro, animado.
- Pelo menos evitamos um desastre.
- Que desastre? - Malcolm perguntou, suspirando.
- Bem - Hammond disse. - Eles não fugiram daqui para conquistar o mundo.
Malcolm ergueu-se nos cotovelos.
- Estava preocupado com isso?
- Mas claro, isso representava o maior risco. Os animais poderiam destruir o planeta, são predadores ferozes - Hammond afirmou.
- Seu egomaníaco idiota - Malcolm retrucou furioso. - Tem alguma idéia do que está falando? Acha que pode destruir o planeta? Está intoxicado pelo poder. Não conseguiria destruir o planeta. Nem de longe.
- Muita gente acredita - Hammond argumentou -, que nosso planeta corre sério perigo.
- Bem, não corre - Malcolm contradisse.
- Todos os especialistas concordam que o planeta tem problemas. Malcolm suspirou de novo.
- Vou explicar algo sobre o nosso planeta. Ele tem quatro bilhões e meio de anos. Há vida aqui praticamente desde o início. Três vírgula oito milhões de anos, data da primeira bactéria. E mais tarde vieram os animais multicelulares, depois as primeiras criaturas complexas, no mar e na terra. Depois as grandes eras dos animais: dos anfíbios, dos dinossauros, dos mamíferos, cada uma durando milhões de anos. Grandes dinastias de criaturas surgiram, floresceram e desapareceram. Tudo isso ocorreu tendo como pano de fundo mudanças violentas, surgimento e erosão de grandes cadeias montanhosas, impacto de cometas, erupções vulcânicas, subida e descida de oceanos, movimento de continentes inteiros... Mudanças constantes e violentas... Mesmo hoje em dia, o maior acidente geográfico do planeta vem da colisão de dois continentes, que se espremeram, criando a cordilheira do Himalaia, há milhões de anos. O planeta sobreviveu a tudo. Certamente sobreviverá a nós. Hammond fechou a cara.
- Só porque durou muito tempo não quer dizer que seja permanente. Se um acidente radioativo...
- Suponha que aconteça isso - Malcolm disse. - Vamos dizer que seja sério, e que todas as plantas e animais morram, e que a terra se aqueça insuportavelmente durante cem mil anos. A vida sobreviverá em algum ponto, sob o solo, ou talvez congelada no gelo ártico. E, depois de muitos anos, o planeta não será mais inóspito, e a vida voltará a se espalhar por sua superfície. O processo da evolução recomeçará. Talvez demore alguns bilhões de anos para que a vida recupere sua variedade atual. E, claro, será muito diferente do que temos agora. Mas a Terra sobreviverá a nossas loucuras. Só nós não sobreviveremos...
- Bem, a camada de ozônio diminui... - Hammond começou.
- Aumentando os raios ultravioletas na superfície. E daí?
- Bem, causa câncer na pele. Malcolm balançou a cabeça.
- A radiação ultravioleta faz bem à vida. É uma poderosa forma de energia. Promove mutações, mudanças. Muitas formas de vida serão beneficiadas com o aumento dos raios ultravioletas.
- E muitas outras morrerão - Hammond teimou.
- Acha que é a primeira vez que isso acontece? Não sabe nada sobre o oxigênio?
- Sei que é necessário para a vida.
- Agora é - Malcolm disse. - Mas o oxigênio, na verdade, é um veneno para o metabolismo. Um gás corrosivo, como o flúor, usado para gravar no vidro. Quando o oxigênio começou a ser produzido, como subproduto das células de certas plantas, digamos, há uns três bilhões de anos, gerou uma crise para todas as formas de vida no planeta. As plantas poluíam a atmosfera com um veneno mortífero. Exalavam um gás letal, e aumentavam sua concentração. Um planeta como Vênus tem menos de um por cento de oxigênio. Na Terra, a concentração aumentava rapidamente, cinco, dez, até chegar a vinte e um por cento! A Terra tinha uma atmosfera carregada de veneno! Incompatível com a vida! Hammond parecia irritado.
- Então, aonde quer chegar? Acha que os poluentes atuais são importantes também?
- Não - Malcolm disse. - Quero dizer que a vida na Terra sabe cuidar de si. Na opinião dos seres humanos, cem anos é muito tempo. Há cem anos, não tínhamos carros, aviões, computadores ou vacinas... O mundo era muito diferente. Mas, para a Terra, cem anos não significam nada. Um milhão de anos não é nada. O planeta vive e respira em escala muito maior. Não conseguimos imaginar seu ritmo poderoso, nem temos a humildade necessária para tentar. Vivemos aqui há um piscar de olho. Se desaparecermos amanhã, a Terra não sentirá a nossa falta.
- E talvez aconteça isso mesmo - Hammond afirmou, cada vez mais bravo.
- Sim - Malcolm concordou. - Pode ser.
- Então o que quer dizer? Que não devemos ligar para o meio ambiente?
- Claro que não.
- Então o que sugere?
Malcolm tossiu, e seus olhos fitaram a distância.
- Vamos deixar algo bem claro. O planeta não corre perigo. Nós é que corremos perigo. Não temos poder para destruir o planeta, nem para salvá-lo. Mas talvez tenhamos o poder de salvar a nós mesmos.
CRICHTON, Michael. Parque dos Dinossauros.

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