domingo, 25 de novembro de 2007

Anjos caninos

Existem pessoas que não gostam de cães. Estas, com certeza, nunca tiveram em sua vida um amigo de quatro patas. Ou, se tiveram, nunca olharam dentro daqueles olhos para perceber quem estava ali.

Um cão é um anjo que vem ao mundo ensinar amor. Quem mais pode dar amor incondicional, amizade sem pedir nada em troca, afeição sem esperar retorno, proteção sem ganhar nada.

Fidelidade vinte e quatro horas por dia?
Ah, não me venham com essa de que os pais fazem isso, porque os pais são humanos

E, quando os agredimos, eles ficam irritados e se afastam...
Um cão não se afasta. Mesmo quando você o agride, ele retorna cabisbaixo, pedindo desculpas por algo que talvez não fez, lambendo suas mãos a suplicar perdão.

Alguns anjos não possuem asas, possuem quatro patas, um corpo peludo, nariz de bolinha, orelhas de atenção, olhar de aflição e carência.
Apesar dessa aparência, são tão anjos quanto os outros (aqueles com asas), e se dedicam aos seus humanos tanto quanto qualquer anjo costuma dedicar-se.

Às vezes um humano veste a capa de anjo, e sai pelas ruas a catar alguns anjos abandonados à própria sorte, e lhes cura as feridas, alimenta, abriga, só para ter a sensação de haver ajudado um anjo...

Deus, quando nos fez humanos, sabia que precisaríamos de guardiões materiais que nos tirasse do corpo as aflições dos sentidos que nos permitissem sobreviver a cada dia com quase nada além do olhar e da lambida de um cão...

Que bom seria se todos os humanos pudessem ver a humanidade perfeita de um cão!


(autor desconhecido)
Já se imaginou agindo com a sabedoria canina?
A vida teria uma perspectiva mais amistosa!
É assim que um cão leva a sua vida, tente!
1. Nunca deixe passar a oportunidade de sair para um passeio.
2. Experimente a sensação do ar fresco e do vento na sua face por puro prazer.
3. Quando alguém que você ama se aproxima, corra para saudá-la(o).
4. Quando houver necessidade, pratique a obediência.
5. Deixe os outros saberem quando invadiram seu território.
6. Sempre que puder tire uma soneca e se espreguice antes de se levantar.
7. Corra, pule e brinque diariamente.
8. Coma com gosto e entusiasmo, mas pare quando estiver satisfeito.
9. Seja sempre leal.
10. Nunca pretenda ser algo que você não é.
11. Se o que você deseja está enterrado, cave até encontrar.
12. Quando alguém estiver passando por um mau dia, fique em silêncio, sente-se próximo e, gentilmente, tente agradá-lo.
13. Quando chamar a atenção deixe alguém tocá-lo.
14. Evite morder quando apenas um rosnado resolver.
15. Nos dias mornos, deite-se de costas sobre a grama.
16. Nos dias quentes, beba muita água e descanse embaixo de uma árvore frondosa.
17. Quando você estiver feliz, dance e balance todo o seu corpo.
18. Não importa quantas vezes for censurado, não assuma a culpa que tiver e não fique amuado corra imediatamente de volta para seus amigos.
19. Alegre-se com o simples prazer de uma caminhada.
20. Seja sempre você mesmo, seja com quem, como, quando ou onde for.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

As vítimas com as quais ninguém se importa

Viviane Fernandes

O cenário é um ponto de ônibus da Avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca, bairro de classe média alta da cidade do Rio de Janeiro.
Aconteceu no dia 4 de novembro de 2007, um domingo, por volta da 1 hora e 30 minutos. Madrugada.
As personagens: de um lado, três jovens de classe média, dois estudantes universitários e um menor, com 17 anos de idade; do outro lado, prostitutas e travestis.
Para o leitor incauto, a história que logo se constrói em sua mente é que os três jovens estudantes de classe média teriam sido agredidos por prostitutas e travestis num ponto de ônibus, ao retornar para casa, após uma noite de diversão.
Ledo engano, pois estamos falando do Rio de Janeiro, cidade pitoresca onde se desenrolam tramas bem mais complexas do que pode conceber a nossa vâ fantasia.
Os fatos então, segundo narrado em um periódico de grande circulação do Estado, foi o seguinte:
Após passarem parte da noite bebendo em um shopping, os três estudantes - Fernando Mattos Roiz Júnior, 19 anos, estudante de jornalismo; Luciano Filgueiras Monteiro, 21 anos, estudante de engenharia, e o menor de 17 anos -, decidem se divertir esvaziando um extintor de incêndio em cima de prostitutas e travestis que faziam ponto na Avenida Lúcio Costa. Extintor de incêndio este que teria sido furtado do condomínio de um dos perpetradores.
A ação foi testemunhada por um engenheiro que passava de carro pela avenida, acompanhado pela namorada e dois filhos. Não se omitiu: avisou à polícia. Ficou tão revoltado que seguiu o carro dos agressores até que fossem detidos na Avenida das Américas.
O caso, que remete à lembrança a agressão sofrida pela doméstica Sirlei Dias acorrido no dia 24 de junho, na mesma Avenida Lúcio Costa, suscita uma série de discussões, que devem ser levantadas.
Em primeiro lugar, deve-se levar bem mais a sério a questão da violência. Sociólogos e demagogos são unânimes em defender que a pobreza e a falta de educação são pressupostos para a escalada da violência. No caso em tela, assim como no referido caso Sirlei, os agressores não eram pobres. E são estudantes universitários. No caso Sirlei, um deles inclusive é estudante de direito.
Outra circunstância que aproxima este caso com a agressão a Sirlei é a total falência da educação familiar e dos bons costumes.
No caso Sirlei, o pai de um de seus agressores, declarou que “manter essas crianças presas é desnecessário. Elas estudam, têm famílias e não são bandidas”. Essa declaração foi feita pelo empresário Ludovico Ramalho Bruno, pai de Rubens Arruda, 19 anos, estudante de direito. O mesmo senhor Ludovico justificou os hematomas de Sirlei por ela ser “mais frágil por ser mulher, por isso fica roxa com apenas uma encostada”.
No caso deste fim-de-semana, o pai de Fernando disse que “tem gente que faz coisa pior. Foi apenas uma brincadeira de crianças. Qualquer um já passou por isso quando adolescente”.
O fato é que a Constituição é clara, em seu artigo 5°, III: “ninguém será submetido à tortura nem tratamento desumano ou degradante”. Eu não lembro de qualquer ressalva da Carta Magna que fale da possibilidade de tratar prostitutas de forma desumana ou degradante – ou mendigos, se não quisermos nos esquecer do caso Galdino Jesus dos Santos ("pensei que fosse um mendigo").
A violência nos grandes centros urbanos, principalmente a praticada por adolescentes de classe média-alta, é muito mais complexa do que querem acreditar os teóricos da segurança pública. Estes adolescentes estão acostumados a uma rotina de permissividade que lhes cria a ilusão de realeza. São desde novos ensinados que a justiça comum não se aplica a eles, já que a própria corrupção é intrínseca à sociedade, que glamoriza o consumo de bebidas alcoólicas e de drogas, que determina que aquele que tem dinheiro tem poder, pode dispor da vida dos menos privilegiados da forma que desejam.
A falência da família, em seu sentido mais amplo, tem também aqui sua parcela de responsabilidade. Uma vez que é a partir dos modelos da infância que se forma o caráter do indivíduo, o que se dizer de exemplos como o dos senhores Ludovico Bruno e Fernando Roiz?
Mais uma vez me pego na contra-mão do convencionado, defendendo os direitos daqueles com quem ninguém se importa. Enquanto a sociedade não se conscientizar de que essa política de segurança pública feita para “preto e pobre”, além de injusta e desleal, é responsável também por criar um ódio social da maior gravidade, ódio esse que não é amparado por barreiras, já que as diferenças sociais nem sempre não objetivas, muitas vezes são resultado de caráter subjetivo do indivíduo, fatos como estes vão se perpetuar nas crônicas e noticiários.
Mais uma vez lanço mão de nossa vilipendiada Carta, que deveria ser Magna, a qual, no caput de seu belo artigo 5°, diz “todos são iguais perante a lei”. O texto é lindo, infla nosso peito com a expectativa de uma “igualdade” para todos. Mas será que a sociedade irá, um dia, alcançar essa igualdade?

domingo, 4 de novembro de 2007

Todos os cães merecem o céu!

Marcelo Médici
Revista O Globo, 4 de novembro de 2007.

Quem assiste ao meu espetáculo solo “Cada um com seus pobrema” percebe que gosto de animais. Herdei de minha mãe a paixão pelos cães. E quando digo paixão é no sentido mais puro da palavra. Já fiz tudo o que um apaixonado por cães faz: peguei na rua e disse que ele tinha me seguido, socorri cachorro atropelado, arrumei um novo lar para outro sem-teto... Sou daqueles que se emocionam com a história do terrier que passou o resto de sua vida em cima do túmulo de seu dono, e que sofrem muito mais assistindo aos filmes da Lassie ou do Benji...

Gostar de um animal (ou mesmo ser apaixonado por ele!) sempre me pareceu saudável e lógico. Desde que nasci já convivi com Peninha, Toco, Lili, Greta, Xanda. Lume, Malu... Impossível enumerar aqui os momentos de alegria, companheirismo, carinho e gratidão que essa galera me proporcionou. O Peninha era de uma raça que era moda nos anos 70: pequinês. Ele avisava minha mãe quando eu chorava no berço. A Lili foi uma vira-latinha que dormia nos pés da minha cama e brincava comigo na rua. Quando eu viajava, me esperava em cima do meu travesseiro... A Lume morreu 15 dias depois de minha mãe, e a Malu, três anos após, no dia em que minha mãe faria aniversário. Mistérios... Detalhe: a Malu morreu com 19 anos! Quando a Malu se foi, decidi que não teria outro cachorro. Nunca mais!

Três meses depois chegou a Preta. Uma pestinha linda de morrer. Ela chegou numa fase complicada, estava saindo do meu emprego, mudança de vida daquelas bem grandes. Mas o que era realmente um momento ruim foi absolutamente amenizado pela presença daquela pequena criatura. Ela foi a companhia ideal para um passeio pelo quarteirão de manhã, pelo parque à tarde, para um café à noite ou uma ida à banca de jornal de madrugada (desemprego tem suas vantagens...). Para ela tudo era muito divertido! É incrível que um ser com menos de três quilos possa emanar tanta vida. Acho que ela me trouxe sorte. A fase ruim passou e eu nem percebi. A Preta deu tanta bola dentro que acabou de ganhar um companheiro, o Juca. Um gorducho que sem dúvida nenhuma é mais apaixonado pela Preta do que por mim, algo que entendo completamente. É bom deixar claro que eles não são meus filhinhos, são meus cachorros. Mas quem me conhece sabe o que isso significa.

Às vezes os apaixonados por cães não são compreendidos e chegam até a ouvir desaforos. Certa feita, minha mãe, ao alimentar um cachorro na rua, ouviu de uma vizinha que existia muita criança passando fome. O curioso é que nunca soubemos que essa mesma vizinha fizesse algo que amenizasse a fome das crianças no mundo... Qualquer prova de amor a um animal é facilmente classificada como carência, desequilíbrio, frustração e várias outras denominações que são, na minha opinião, tolas. Fico com medo de ser piegas ao falar dos meus cachorros (se minha vizinha ler esta coluna pode ficar furiosa...), mas eles mereciam essa retribuição. São criaturas incríveis, mas que requerem muita atenção. Portanto, ter um cachorro deve ser uma decisão pensada.

Se você ainda não tem um a acha que chegou a hora de ganhar um companheiro que estará ao seu lado na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, e se você se comprometer a não abandoná-lo nunca, quem sabe você não o encontra na Suipa, que mantém um trabalho lindo? E se você já tem o seu amigão e não pode ter outro (sempre cabe mais um...), a Suipa e seus abrigados aceitarão uma ajuda e lhe serão gratos, como sempre.

Meus cães foram os melhores investimentos da minha vida.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Qual é a polícia que a sociedade quer?

Viviane Fernandes
Um amigo enviou-me trechos de uma entrevista que José Padilha, diretor do filme Tropa de Elite, concedeu para a Folha de São Paulo.
Honestamente, eu acho esse Padilha um hipócrita. Visivelmente, ele foi arroxado pelos amiguinhos usuários dele e agora está fazendo uma mea culpa.

Inclusive, o cara nem sabe o que diz. Comparar o Bope com a Swat só mostra o qto ele é um ignorane no assunto, pois são equipes com funções completamente diferentes.

Honestamente, tenho ouvido muito sobre a polícia, críticas aos policiais, acusações de tortura, alegações de que os policiais devem fazer faculdade... Mas ninguém está querendo dizer a única verdade: a polícia é violenta pois os criminosos são violentos. Que tal criticar os criminosos por torturarem a todos, por serem violentos e, por que não, mandar os criminosos para a faculdade?

Há alguns anos estive em uma cidade próxima a Blumenau. É uma cidade onde as pessoas se conhecem e respeitam, local em que as pessoas nem constroem muros ou portões em suas casas. Nessa ocasião, tive a oportunidade de conhecer duas delegacias de polícia: uma na própria cidade, Indaial, e outra delegacia na cidade vizinha, e digo, em todas as duas encontrei policiais educados e um ambiente extremamente agradável. Sabe por quê? Por um único motivo: nessas cidades não há criminalidade. Foi construída uma cadeia que só abriga bêbado, local onde são colocados para dormir e "esfriar a cabeça".

A polícia só sofre críticas por causa do discurso do vencedor que, em nosso caso, são as elites. As mesmas elites que querem "esquentar" suas festinhas com maconha, cocaína e extasi (nem sei como se escreve esse troço) e que, para conseguirem "desconto", têm que fazer amizade com os traficantes da vida. Afinal, os policiais prejudicam as festinhas das elites...

Vivemos numa sociedade em que a corrupção não encontra fronteiras. O pobre é tão corrupto quanto o rico, apenas com uma área de abrangência menor, porém com a mesma intenção criminosa, intenção esta que faz até com que o vilipendiado justifique as atitudes do vilipendiador: "se fosse eu, faria a mesma coisa".

Essa realidade gera um ódio social sem proporções. Aliás, eu diria que, em nossa sociedade urbana de grande porte, o preconceito social é até mais poderoso que o preconceito étnico. Aqui, não importa ser branco ou negro, importa ser rico ou pobre. Por isso, vemos com freqüência pessoas negras de classe mais abastada cercando-se de empregados fenotipicamente caucasianos. É o preconceito social casado com o preconceito ético: "a quem posso ofender mais".

Digo, fenotipicamente caucasiano pois a sociedade brasileira foi formada a partir de, parafraseando o poeta, "estupradores e ladrões". Criminosos portugueses foram para cá enviados e, na ausência de mulheres, estupraram negras e índias, as quais, aliás, deprezavam, por serem "raças inferiores". Um pérola do pensamento cristão do século XVI. Nesse contexo, somos obrigados a reconhecer que todos nós brasileiros somos mestiços, se é que consideramos que existe mais de uma raça humana.

Nossos colonizadores não vieram para cá objetivando constriur uma nação, e até hoje o brasileiro não se identifica como tal. Somos um monte de gente com um mesmo objetivo, sim: enriquecer e pisar na cabeça do vizinho.

A instituição polícia é apenas um peão neste tabuleiro. Uma vítima das políticas públicas que desmoralizam o pobre para jogar um manto que esconda a podridão do rico.

À polícia cabe representar o braço coercitivo do Estado, e ela apenas funciona quando existe um Estado. O que no Brasil não há. O Estado brasileiro não é soberano, condição básica para sua existência.

Em um país no qual os políticos não assumem qualquer compromisso com o povo que os elegeu, em que a única fidelidade determinada pelo STF é a partidária, fica a polícia e também a população à mercê de uma ditadura da esmola, já que o Estado não cumpre a sua função de suprir a população com educação e saúde. E, claro, o traficante aprendeu muito bem essa lição: vamos dar esmolas também. E cumpre muito bem este papel, concordo.

O único braço do Estado que sobe o morro é a polícia. A mesma polícia que é armada belicamente e cuja função é fazer cumprir "a lei e a ordem". Policial não tem a função de ser bonzinho. Ao pegar em armas, o sujeito é treinado para uma única realidade: matar ou morrer. Nesse contexto, o erro não é a polícia, mas de toda uma política que age nesse sentido.

Tropa de Elite, o filme, trata sim da visão do policial. O filme tem o mérito de, pela primeira vez no Brasil, tratar o lado da maior vítima da política pública deste país, este mesmo policial que leva tiro de bandido, é maltratado pela população e escorraçado pelo poder público.

Encerro por aqui, com algumas perguntas:

Qual é a polícia que a sociedade quer?

Quem são os políticos que a sociedade quer?

Será que a sociedade está preparada para viver em um verdadeiro Estado de Direito?