quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Manuel de Barros


Manuel de Barros
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras fatigadas de informar.
Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão, tipo água, pedra e sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal
É maior do que o mundo.

domingo, 26 de outubro de 2008

Pedra do Pontal

Viviane Fernandes
Quem me conhece sabe que não gosto de calor, não gosto de praia, não gosto de sol.
Porém...
Encontrei alguns amigos hoje. Amigos antigos, muito amados e muito queridos. Quando digo antigos, quero dizer que são amigos com quem compartilhei minha infância e adolescência. Amigos que foram, mais que tudo, irmãos. Amigos que, ainda hoje, apesar da distância, continuam sendo família.
Pois bem, nossas amizades surgiram e foram cristalizadas no Recreio dos Bandeirantes, à sombra da Pedra do Pontal. Ali havia um camping e, da forma como eu via, e como vejo, aquele lugar mais parecia uma vila, dessas em que famílias inteiras se reúnem. Éramos crianças e adolescentes de diversas idades, amigos cujos pais e mães eram, também, amigos. Crescemos, então, como família.
Nosso relacionamento foi coroado pelo Sol de Verão, pois era nessa estação do ano que mantínhamos mais contato. Passávamos os meses de verão em frente à praia. Ou melhor, passávamos o verão na praia. Éramos locais, vivíamos em grupo, cuidávamos dos menores, acordávamos no mesmo horário, almoçávamos no mesmo horário, íamos dormir no mesmo horário. Vivíamos na praia, nadávamos todos os dias, com chuva ou com sol; enfim, aproveitamos tudo o que pudemos.
Carpe diem.
Mas, crescemos. E a demanda da maturidade nos afastou. Não por que queríamos, mas por que precisávamos.
Hoje, meus amigos estão casados, têm filhos. Hoje, eles olham para seus filhos e gostariam que suas crianças tivessem o que tivemos. E, na impossibilidade de reproduzir todo aquele ambiente no qual fomos criados, surgiu a necessidade de retornar ao convívio.
Eu não gosto de calor. Eu não gosto de sol. Eu não gosto de praia. Entretanto, agradeço ao calor, ao Sol e à praia por uma infância maravilhosa, e agradeço ao Recreio por ter sido o cenário de amizades que, hoje sei, vou embalar pelo resto de minha vida.