Viviane Fernandes
Estreou no dia 10 de junho de 2008 uma nova série da Fox - 9mm: São Paulo. É óbvio que uma série que fala sobre a polícia brasileira iria causar um certo frisson, então, conferi. A série é baseada em cinco personagens, todos policiais de uma delegacia de homicídios de São Paulo.
Horácio (Norival Rizzo) é investigador há 30 anos. Entrou para a força policial em pleno regime militar e preserva hábitos autoritários. É silencioso, tem um humor ácido e por vezes age de forma bastante violenta. Sempre foi um solitário e estava acostumado a atuar sem a ajuda de ninguém, mas agora ele atravessa um momento de crise, uma vez que seus métodos de investigação da “velha guarda” não são aceitos por seus companheiros mais jovens, profissionais que tentam modernizar a instituição.
Eduardo (Luciano Quirino) é delegado de grande prestígio, considerado um jovem talento da nova polícia. Ele é um dos poucos delegados que possuem nível universitário e um mestrado em direitos humanos. Porém, apesar dos seus méritos pessoais e do cargo, muitas das conquistas de sua carreira estão relacionadas aos contatos de seu sogro, um renomado deputado. Este favoritismo entra em conflito permanente com a razão pela qual ele entrou para a instituição, que é transformar a polícia brasileira em uma instituição justa e transparente.
Luisa (Clarisse Kiste) é uma investigadora de 34 anos. Foi mãe solteira aos 15 anos, o que lhe trouxe um enorme senso de responsabilidade, mas também exigiu sacrifícios. Luisa é moralista, obsessiva, perfeccionista e se dedica ao trabalho como poucos. Porém, o fato de lidar diariamente com as injustiças do mundo a tornou uma mulher dura e exigente. Esta característica, que lhe permite atuar com eficiência em termos profissionais, constantemente gera conflitos com sua filha Dani, uma garota que ela não compreende e não sabe como lidar.
Tavares (Marcos Cesana) tem 38 anos e acaba de entrar para a polícia. Embora seja um homem da lei, conhece os praticantes de jogos ilegais, traficantes de drogas, ladrões de carros e tem um bom relacionamento com vários criminosos de seu bairro. Estes contatos lhe são indispensáveis, e não hesita em usá-los como informantes ou pontes de acesso para os criminosos, uma tática que em muitas ocasiões irá ajudá-lo a encontrar e pista certa para resolver alguns casos.
3P (Nicolas Trevijano) tem 30 anos e um bom caráter. Luta jiu-jitsu, é fanático por esportes extremos e entrou para a polícia atraído pela adrenalina da profissão. Por vezes impulsivo e descontrolado, 3P tem dificuldades para lidar com a violência que constantemente coloca sua vida em perigo.
Fica bem claro que a própria composição dos personagens é uma metáfora das personalidades que compõem a polícia brasileira. Mas fica bem óbvio, também, que as personagens, cada uma de sua maneira, busca a realização e a afirmação da Justiça, em seu sentido maior.
Até ontem (24/6/2008) eu não vinha entendendo muito bem a mensagem que a série buscava passar. Mas continuei assistindo. Na verdade, ainda não sei bem a mensagem, mas o episódio de ontem, intitulado “Eu Sou Mais Forte”, me deixou realmente chocada.
Nele, jovens de elite lutadores espancam dois jovens de periferia, um deles até a morte. O dinheiro e a influência de sus famílias intimidam a justiça e afastam testemunhas, perpetuando a impunidade. Sobre este pano de fundo, reflexo dessa espécie de apartheid brasileiro, estão tecidos os conflitos dramáticos.
Dani e 3P nos apresentam as ambigüidades de ser jovem neste mundo minado. Dani se envolve na balada com os espancadores: jovens, ricos, sarados, com um charme cínico e poderoso. Apesar de ser policial, 3P também se deixa seduzir por esse jeito de ser agressivo e poderoso – em última instância, de elite.
O subtema das mães protegendo seus filhos perpassa o episódio. O foco principal está em Luísa que, com medo de represálias, não quer que Dani, testemunha ocular do crime, deponha. A mãe de um jovem pobre, vítima e testemunha, também evitará que seu filho se apresente à polícia. E, no pólo oposto, a mãe do jovem de elite defenderá seu filho coagindo testemunhas e mobilizando suas influências.
Essa presença das mães dramatiza o conflito entre valores públicos e privados, que se expressa no episódio também em termos mais gerais – principalmente no confronto entre Eduardo e Horácio –, retomando e concentrando uma pergunta que está também em outros momentos da série: a justiça é mesmo para todos?
O episódio teve, na minha opinião, dois momentos emblemáticos.
Em um deles, Eduardo janta com a noiva e seu sogro, o Deputado, em um restaurante caro. Durante a conversa, o Deputado elogia uma declaração que Eduardo fez à imprensa, dizendo que este conseguiu manter-se afastado da opinião pública. Eduardo então responde que não tem “compromisso com a opinião pública, mas com a coisa pública, a res publica”, ao que é devidamente menosprezado pelo Deputado, que diz que esse latim de Eduardo para ele, é grego.
Na cena final do episódio, o policial 3P, inconformado com a impunidade de Felipe, que espancou um adolescente da periferia até a morte e cuja família coagiu testemunhas, vai até a academia para confrontá-lo fisicamente. Eles lutam, Felipe deixa 3P na lona e sai declarando que é mais forte.
A metáfora é clara: dinheiro e poder derrubam a Justiça; mais uma vez o que se vê é a supremacia da impunidade, em uma sociedade em que a lei e a ordem apenas funcionam para os negros e pobres.
Horácio (Norival Rizzo) é investigador há 30 anos. Entrou para a força policial em pleno regime militar e preserva hábitos autoritários. É silencioso, tem um humor ácido e por vezes age de forma bastante violenta. Sempre foi um solitário e estava acostumado a atuar sem a ajuda de ninguém, mas agora ele atravessa um momento de crise, uma vez que seus métodos de investigação da “velha guarda” não são aceitos por seus companheiros mais jovens, profissionais que tentam modernizar a instituição.
Eduardo (Luciano Quirino) é delegado de grande prestígio, considerado um jovem talento da nova polícia. Ele é um dos poucos delegados que possuem nível universitário e um mestrado em direitos humanos. Porém, apesar dos seus méritos pessoais e do cargo, muitas das conquistas de sua carreira estão relacionadas aos contatos de seu sogro, um renomado deputado. Este favoritismo entra em conflito permanente com a razão pela qual ele entrou para a instituição, que é transformar a polícia brasileira em uma instituição justa e transparente.
Luisa (Clarisse Kiste) é uma investigadora de 34 anos. Foi mãe solteira aos 15 anos, o que lhe trouxe um enorme senso de responsabilidade, mas também exigiu sacrifícios. Luisa é moralista, obsessiva, perfeccionista e se dedica ao trabalho como poucos. Porém, o fato de lidar diariamente com as injustiças do mundo a tornou uma mulher dura e exigente. Esta característica, que lhe permite atuar com eficiência em termos profissionais, constantemente gera conflitos com sua filha Dani, uma garota que ela não compreende e não sabe como lidar.
Tavares (Marcos Cesana) tem 38 anos e acaba de entrar para a polícia. Embora seja um homem da lei, conhece os praticantes de jogos ilegais, traficantes de drogas, ladrões de carros e tem um bom relacionamento com vários criminosos de seu bairro. Estes contatos lhe são indispensáveis, e não hesita em usá-los como informantes ou pontes de acesso para os criminosos, uma tática que em muitas ocasiões irá ajudá-lo a encontrar e pista certa para resolver alguns casos.
3P (Nicolas Trevijano) tem 30 anos e um bom caráter. Luta jiu-jitsu, é fanático por esportes extremos e entrou para a polícia atraído pela adrenalina da profissão. Por vezes impulsivo e descontrolado, 3P tem dificuldades para lidar com a violência que constantemente coloca sua vida em perigo.
Fica bem claro que a própria composição dos personagens é uma metáfora das personalidades que compõem a polícia brasileira. Mas fica bem óbvio, também, que as personagens, cada uma de sua maneira, busca a realização e a afirmação da Justiça, em seu sentido maior.
Até ontem (24/6/2008) eu não vinha entendendo muito bem a mensagem que a série buscava passar. Mas continuei assistindo. Na verdade, ainda não sei bem a mensagem, mas o episódio de ontem, intitulado “Eu Sou Mais Forte”, me deixou realmente chocada.
Nele, jovens de elite lutadores espancam dois jovens de periferia, um deles até a morte. O dinheiro e a influência de sus famílias intimidam a justiça e afastam testemunhas, perpetuando a impunidade. Sobre este pano de fundo, reflexo dessa espécie de apartheid brasileiro, estão tecidos os conflitos dramáticos.
Dani e 3P nos apresentam as ambigüidades de ser jovem neste mundo minado. Dani se envolve na balada com os espancadores: jovens, ricos, sarados, com um charme cínico e poderoso. Apesar de ser policial, 3P também se deixa seduzir por esse jeito de ser agressivo e poderoso – em última instância, de elite.
O subtema das mães protegendo seus filhos perpassa o episódio. O foco principal está em Luísa que, com medo de represálias, não quer que Dani, testemunha ocular do crime, deponha. A mãe de um jovem pobre, vítima e testemunha, também evitará que seu filho se apresente à polícia. E, no pólo oposto, a mãe do jovem de elite defenderá seu filho coagindo testemunhas e mobilizando suas influências.
Essa presença das mães dramatiza o conflito entre valores públicos e privados, que se expressa no episódio também em termos mais gerais – principalmente no confronto entre Eduardo e Horácio –, retomando e concentrando uma pergunta que está também em outros momentos da série: a justiça é mesmo para todos?
O episódio teve, na minha opinião, dois momentos emblemáticos.
Em um deles, Eduardo janta com a noiva e seu sogro, o Deputado, em um restaurante caro. Durante a conversa, o Deputado elogia uma declaração que Eduardo fez à imprensa, dizendo que este conseguiu manter-se afastado da opinião pública. Eduardo então responde que não tem “compromisso com a opinião pública, mas com a coisa pública, a res publica”, ao que é devidamente menosprezado pelo Deputado, que diz que esse latim de Eduardo para ele, é grego.
Na cena final do episódio, o policial 3P, inconformado com a impunidade de Felipe, que espancou um adolescente da periferia até a morte e cuja família coagiu testemunhas, vai até a academia para confrontá-lo fisicamente. Eles lutam, Felipe deixa 3P na lona e sai declarando que é mais forte.
A metáfora é clara: dinheiro e poder derrubam a Justiça; mais uma vez o que se vê é a supremacia da impunidade, em uma sociedade em que a lei e a ordem apenas funcionam para os negros e pobres.